Na Rotunda, pelas 3 horas da manhã de
4 de Outubro de 1910, quando Machado Santos assumiu o comando das forças
revoltosas - militares republicanos e civis armados - recebeu um juramento dos homens que
ocupavam as barricadas: “Nós
morremos aqui ao lado de Vossa Senhoria”. O combate era desigual: não mais
de 400 revoltosos contra mais de oito mil soldados e polícias obedientes ao
Estado-Maior monárquico. Mas às quatro da tarde, as forças monárquicas
retiravam-se de Sete Rios. E os republicanos tomavam a iniciativa. Dispunham de
oito peças de artilharia com as quais bombardearam o Palácio das Necessidades. A
alteração de forças e de posições dava-se a cada hora. E quando os monárquicos
começaram a bombardear a Rotunda, a partir do pátio do Torel, atingindo as ameias e torres da Penitenciária
de Lisboa (na foto pequena), os republicanos bombardearam
o Rossio, onde as forças monárquicas se concentravam para o assalto às
barricadas da Rotunda. Ao mesmo tempo, forças das Armada desembarcavam na Baixa
em apoio da República, a corte fugia e importantes unidades controladas pelos monárquicos
desertavam em massa.
E foi assim que às 11 horas da manhã
de 5 de Outubro de 1910 foi possível a dirigentes do Partido Republicano proclamarem
na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa: “Unidos todos numa mesma aspiração ideal, o Povo, o Exército e a Armada
acabaram de proclamar a República em Portugal.”
Nos dias seguintes, de Lisboa para
todo o País, a proclamação seguiu pelo telégrafo: “A República é, no Estado, liberdade; na indústria, produção; no
trabalho, segurança; na nação, força e independência. Para todos, riqueza; para
todos, igualdade; para todos, luz."
Na véspera, antes mesmo da
proclamação, já “um bando de miúdos
andava pelas ruas de Lisboa, de bandeira em punho, a bandeira vermelha e verde da Revolução
feita em papel de seda, onde colara, em letras recortadas, um Viva a República”.
O poeta José Gomes Ferreira, um desses miúdos, tinha 10 anos em 1910, nascera
com o século.
Citação de José Gomes Ferreira in A Memória das Palavras, ou O Gosto de Falar de Mim, 1965
Citação de José Gomes Ferreira in A Memória das Palavras, ou O Gosto de Falar de Mim, 1965
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