quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Era uma vez um barco de casco para o ar

O Tollan ainda se afundou a preto e branco
Entre 16 de Fevereiro de 1980 e 2 de Dezembro de 1983 Lisboa teve uma atração turística supranumerária: um barco de casco para o ar, o Tollan.
Era um barco a sério, um navio porta-contentores inglês que colidiu no nevoeiro com um cargueiro sueco, o Barranduna, e começou a submergir no Tejo, em frente do Terreiro do Paço. O naufrágio custou a vida a quatro dos 16 tripulantes do Tollan. Mas o mais original é que dois dias depois do naufrágio o Tollan rodou 180 graus e encalhou de casco para o ar. O casco era inicialmente vermelho mas foi perdendo a cor, ganhando no entanto algumas inscrições políticas.
E apesar de constituir perigo evidente para a navegação no Tejo, o Tollan ali ficou três anos – 3 anos 3 –, resistindo heroicamente a diversas tentativas de remoção. Em Lisboa, quando não havia absolutamente mesmo mais nada para fazer, as pessoas iam ver o Tollan, vendo talvez no porta-contentores inglês a imagem de um país encalhado. Começou num mês de Fevereiro há 35 anos. Nesse ano, a RTP começou as emissões a cores; em Coimbra foi restabelecida a Queima das Fitas; etc. 

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

O Bairro das dez igrejas

Igreja de Nossa Senhora de Jesus, Mercês
O Bairro Alto, apontado desde tempo imemoriais como bairro da boémia e da má vida, é também na cidade de Lisboa um bairro de templos e de culto religioso: nove Igrejas e dois conventos com igreja asseguram no Bairro locais de religiosidade: E a dois passos, há mais quatro igrejas.

Igreja de São Roque
Igreja das Chagas
Igreja da Encarnação
Igreja do Loreto
Igreja dos Paulistas
Igreja de Santa Catarina
Igreja de Nossa Senhora de Jesus
Igreja de São Pedro e São Paulo
Convento da Nossa Senhora da Conceição dos Cardais
Convento e Igreja São Pedro de Alcântara

Convento e Igreja de S. Pedro de Alcântara

E ainda, em S. Mamede:
Igreja de São Mamede
 E no Chiado:
Igreja do Loreto
Igreja dos Mártires
Igreja do Sacramento 
Igreja do Carmo

No Bairro Alto até houve uma igreja dispensada pela Igreja e posta à venda, a Igreja de São Pedro e São Paulo, integrada no Convento dos Inglesinhos.
Igreja do Sacramento









Distingamos uma delas, pela sua monumentalidade, a
Igreja de Nossa Senhora de Jesus, Paroquial das Mercês. Datada do século XVII e reconstruida após o Terramoto, o templo é Imóvel de Interesse Público, classificação alargada mais tarde, como Conjunto de Interesse Público ao antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus e respectiva cerca, incluindo a Academia das Ciências, o Museu Geológico do Instituto Geológico e Mineiro, a Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora de Jesus e o Hospital de Jesus.

Este País sempre teve mais Igrejas que escolas e hospitais. E este Bairro não é só uma marcha que passa. São 500 anos de História. 
Texto e fotos Beco das Barrelas 

domingo, fevereiro 15, 2015

Olhares

Eu Sou do Tamanho do que Vejo
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.



Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Fotos : Olhares sobre Lisboa, Beco das Barrelas

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Amor é

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões

O amor cerra os olhos, não para ver 
mas para absorver: a obscura transparência,
a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se 
sobre a terra coroada: animal das águas, 
animal do fogo,animal do ar:a matéria é só uma,
terrestre e divina.
António Ramos Rosa, 
de Três Lições Materiais

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso
Maria Teresa Horta, Morrer de Amor 



14 de Fevereiro, 
Dia dos Namorados,
não há festa na Voz do Operário.
Não há festa mas há programa:
Matinée RADIO SHOW, 
com bailarico. E soirée com
RÁDIO ROYALE e 
ORQUESTRA IDEAL

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Toponímia

André Brun, dramaturgo, cronista, argumentista de filmes, é vizinho de Gervásio Lobato, dramaturgo, jornalista, comediógrafo, na toponímia em Campo de Ourique.
Francisco Ribeiro “Ribeirinho” é nome de rua de Arroios, só vizinha de santas e de frades. Já Vasco Santana, o Pai Tirano de Ribeirinho, foi para a Portela, fora de portas. Quanto a João Villaret vai dar à Avenida de Roma. O Bairro dos Actores é de outras gerações: a actriz Virgínia, o actor Vale.
Ivone Silva está longe da Avenida e mais perto de Entrecampos; são as trocas baldrocas entre o Parque e a Feira Popular.
Já o actor António Silva é paralelo a Fernando Curado Ribeiro, também actor, galã do cinema português e locutor de rádio. Contracenam em ruas do Lumiar, como contracenaram no Costa do Castelo ou na Menina da Rádio.
Mas Alice Cruz é nome de jardim em São Domingos de Benfica e não tem vizinhos do ofício da rádio e televisão. Jorge Alves é que ficou vizinho da Rua do Quelhas mas a Emissora mudou de poiso.
Amália cantou “Nome de Rua” mas é nome de jardim, no alto do Parque. Fernando Maurício, em Braço de Prata, está longe da Igreja de Santo Estevão. Em linha reta estará perto, mas às voltas fica distante de Alfredo Marceneiro, no Bairro de Chelas. Quanto a Hermínia Silva fica para a Ajuda.

Longe das suas Papoilas Saltitantes, Luís Piçarra liga Helena Vaz da Silvas e José Cardoso Pires, que o Município equiparou na toponímia da cidade. Ambos vão dar a David-Mourão Ferreira e são vizinhos de Álvaro Cunhal. Octávio Pato fica para o outro lado da Krus Abecassis, perpendicular à Santos e Castro, um presidente da Câmara de Lisboa não eleito.
Melo Antunes vai desembocar na Sérgio Vieira de Melo; antes cruza a Octávio Pato e a Luís Sá, depois encontra a João Amaral. Da rotunda onde desemboca a Álvaro Cunhal, saem para a direita Vasco Gonçalves, para a esquerda Eugénio de Andrade. Vantagens das novas urbanizações, nesta toponímia de proximidade.  

Antigamente não era assim
Rua sem nome
Antigamente, conta-nos o historiador António Borges Coelho - Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista, Caminho, 2007 -, havia «becos sem nome e ruas com nomes vários», e nos nomes «ficaram registadas a flora - Rua da Amendoeira, da Oliveira, da Figueira, das Parreiras; os ofícios - Caldeiraria, Ferrarias Velhas e Novas, Correiaria, Tinturaria; o morador rico ou poderoso - Rua de Dom Gil Eanes, do Conde da Vidigueira, do Barão.
E assim a cada passo «nos confrontamos com o muro da cerca, o arco, a cruz, a porta, a torre velha ou nova, os moinhos de vento, os fornos, as atafonas, o outeiro, a laje, os canos, a ponte, a regueira, as varandas, os corredouros ou passadiços.» 

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Comer em Campo d’Ourique: A LISTA DE SEIXAS

Mercado de Campo de Ourique
O embaixador Francisco Seixas da Costa, um connaisseur da boa mesa, editou no seu blogue Ponto.come uma lista de duas dezenas de restaurantes como guia para bem comer em Campo d’Ourique. Só temos, todos nós lisboetas, a agradecer-lhe a disponibilidade de partilhar os seus conhecimentos tão vastos como requintados. E Campo d’Ourique por certo também agradece. O bairro é um todo onde as pessoas fazem a sua vida, incluindo sentar-se à mesa, com prazer.

A Tasca da Esquina

De maneira que aqui disponibilizo a lista de Seixas, reforçando as suas recomendações e remetendo os leitores para o endereço do Ponto.come, para que condimentem a lista com o tempero das palavras do autor.
Há um restaurante de Campo d’Ourique que o autor do Ponto.come inclui na lista, embora sublinhando os seus aspectos mais negativos e acrescentando que aquela é a casa que mais o divide de vários amigos: a maioria deles adora e ele não. « Feitios...», comenta.

Sigam a lista de Seixas da Costa e bom proveito.

domingo, fevereiro 08, 2015

Lisboa vista do espaço

A Agência Espacial Europeia divulgou imagens captadas pelo satélite Sentinel-1A, em Outubro, nas quais Lisboa aparece em destaque, de tal maneira que a Agência dedicou à capital portuguesa o seu programa Earth from Space (A Terra Vista do Espaço). 
Se para Yuri Gagarine a Terra era azul, Lisboa vista do espaço é azul e amarela.
O rio Tejo e o seu enorme estuário, a Ponte 25 de Abril e a Ponte Vasco da Gama, mais esbatida, sobressaem na imagem, divulgada nesta sexta-feira.
Nas imagens divulgadas são visíveis o estuário do Tejo, a Ponte 25 de Abril, a Península de Setúbal, a cidade de Lisboa e toda a ocupação humana envolvente.
"A vir do canto superior direito está o rio Tejo, o maior rio da Península Ibérica, que se estende ao longo de mais de mil quilómetros. Na imagem podemos ver o final da viagem do rio: o desaguar no Atlântico, em Lisboa. Com extensos lodaçais, salinas, canaviais, e salinas artificiais, [o estuário] é importante para cerca de 16 espécies de aves aquáticas, numerosas espécies de aves nidificantes e a lontra europeia", diz a apresentadora no site da Agência Espacial Europeia.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

A propósito de bancos

Agora que tanto se fala de bancos, é curioso recordar uma velha história portuguesa. É uma história dos anos vinte do século passado, cujo cenário, na esquina da Rua do Crucifixo com a Rua da Conceição, desperta a atenção de quem passa pela exuberância de ornamentos .
Leões, folhagens, grinaldas, em volutas, acantos, frisos, arcos de volta, o edifício retrata uma época, os seus excessos e alguma confusão estética, com um resultado final entre neobarroco e arte nova. 

Mas ninguém que passe fica indiferente ao traço do arquitecto Miguel Nogueira, de 1922.
Mas vamos à história portuguesa que passa por ali. O edifício foi adquirido ainda em construção, em 1925, para ali funcionar a sede de uma instituição bancária portuguesa daqueles tempos: o Banco Angola e Metrópole. 
O comprador foi Artur Virgílio Alves dos Reis.

O resto da história? Ora, a história até já foi contado em novela na televisão portuguesa e minissérie da RAI.  É a história da emissão de notas de 500  ilegítimas mas verdadeiras. 


Texto e fotos Beco das Barrelas

terça-feira, fevereiro 03, 2015

CML compra e vende

A Câmara Municipal de Lisboa quer vender este ano os terrenos da Feira Popular, em Entrecampos, adquiridos há um ano, no âmbito de um acordo com a Bragaparques.
A CML estabeleceu um acordo com a Bragaparques, em Janeiro de 2014, com vista a consolidar definitivamente a propriedade dos terrenos da feira Popular em Entrecampos e do Parque Mayer junto à Avenida da Liberdade.
O presidente da Câmara esclareceu na altura que a compra dos terrenos do Parque Mayer criou “condições para se executar o plano de pormenor”, que prevê, entre outros, a requalificação dos teatros Capitólio e Variedades, áreas comerciais e um terceiro equipamento para uso a definir.
Entre o Parque e a Feira,
quantos teatros vão abaixo?

Sobre os terrenos da antiga Feira Popular, o autarca disse que “não serão outra vez feira popular”, sublinhando que havia tempo “para se poder, com tranquilidade, definir os seus usos urbanísticos, visto que se trata de uma área de valorização muito importante para a cidade de Lisboa”.














Nos termos do acordo, a CML pagou 100 milhões de euros pelos terrenos da Feira Popular e Parque Mayer. Agora anunciou que os terrenos na antiga Feira Popular, em Entrecampos, vão ser vendidos este ano pela Câmara.
Lisboa e os lisboetas deixaram de ter Feira Popular, também não têm Parque Mayer, mas a CML desembolsou 100 milhões e agora propõe-se vender os terrenos de Entrecampos em hasta pública. 

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Varinas inauguram Museu de Lisboa

Como é que uma mulher trabalhadora, da classe mais baixa, se transforma em ícone de uma cidade? Foi procurando resposta para esta pergunta que se montou a exposição que inaugurou, em 1 de Fevereiro, o Museu de Lisboa, no palácio Pimenta, Campo Grande. A exposição conta a história da varina de Lisboa.
O até agora denominado Museu da Cidade passou a designar-se Museu de Lisboa, sendo composto por cinco novos núcleos: Palácio Pimenta e Pavilhão Preto (o Pavilhão Branco também existente nos jardins ficou de fora deste projeto e passou para tutela direta da EGEAC); Museu do Teatro Romano; Museu Santo António; Torreão Poente, no Terreiro do Paço, e Casa dos Bicos, este na Zona da Sé de Lisboa.
A sede do novo Museu é no Palácio Pimenta, no Campo Grande, onde agora se pode ver a exposição Varinas de Lisboa, com imagens e objetos que retratam um dos principais ícones da capital, as mulheres que andavam descalças pelas ruas de Lisboa com a canastra do peixe à cabeça.

(...) Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

Excerto de «Avés-Marias", de "Sentimento de um ocidental", de Cesário Verde; 
Pintura de Almada Negreiros, Gare Marítima de Alcântara;
Desenho de João Abel Manta.