Mas
eu é que não pude ainda por meus passos
Sair
desta prisão em corpo inteiro,
E
levantar âncora, e cair nos braços
De
Ariane, o veleiro.
Lisboa, Cadeia do
Aljube, 1 de Janeiro de 1940
Miguel Torga
O Museu do Aljube, apresentado como "um espaço de memória e de
evocação da luta pela liberdade e da resistência à ditadura em Portugal", foi
inaugurado no dia 25 de Abril de 2015 na antiga prisão política da ditadura, em
Lisboa.
O edifício foi entregue em 25 de Abril de 2009 pelo Ministério da Justiça à
Câmara de Lisboa. O projeto de adaptação da antiga prisão é dos arquitetos
Manuel Graça Dias e Egas José Vieira. Concluído o projeto arquitetónico, seguiu-se
o programa de conteúdos expositivos. Este novo museu municipal instalado na
antiga cadeia do Aljube, pretende apresentar um retrato alargado da história
contemporânea portuguesa, cobrindo múltiplos aspetos da resistência contra a
ditadura e da luta pela liberdade.
Presume-se que o Aljube tenha sido uma prisão política a partir de 1928. Aí
eram encarcerados, interrogados e torturados pela polícia política os presos do
sexo masculino. Nos anos 40 do século passado, o espaço acolheu muitos dos
presos políticos durante a fase de interrogatório, que decorria geralmente na
sede da polícia política do regime do fascismo (PIDE), na rua António Maria
Cardoso, em Lisboa.
Pelas celas do Aljube, como presos políticos, passaram Alfredo
Caldeira, Alfredo José da Costa, Álvaro Cunhal, António Borges Coelho, Arlindo
Vicente, Artur Pinto, Carlos Brito, Crisóstomo Teixeira, Domingos Abrantes, Edmundo
Pedro, Fernando Rosas, Francisco Miguel, Francisco Paula de Oliveira (Pável), Henrique
Galvão, Hermínio da Palma Inácio, Hipólito dos Santos, Jaime Serra, Joaquim
Pinto de Andrade, José Luís Saldanha Sanches, José Manuel Tengarrinha, José
Mário Branco, José Medeiros Ferreira, Mário Lino, Mário Soares, Miguel Torga, Nuno
Teotónio Pereira, Raúl Rêgo, Urbano Tavares Rodrigues, Vasco Granja.
Evadiram-se da cadeia do Aljube: Emídio Guerreiro, Filipe José da Costa,
Heitor Rodrigues, José dos Santos Rocha, José Severo dos Santos e Manuel
Sanches Dias, 4 de Abril de 1932; Francisco Paula de Oliveira (Pável), 23 de Maio de 1938; Hermínio
da Palma Inácio, 16 de Maio de 1948; Américo de Sousa, Carlos Brito e
Rolando Verdial, 25 de Maio de 1957. Morreram na cadeia do Aljube, Manuel
Vieira Tomé, 21 para 22 de Abril de 1934, e Vítor da Conceição, 8 de Maio de
1934.
A cadeia foi encerrada em 1965.
De acordo com o projeto inicial, o Museu do Aljube, Resistência e da
Liberdade, terá exposições temporárias (piso 0), exposições permanentes (pisos
1 e 2), uma reconstituição das celas de isolamento que ficaram conhecidas por
"curros" (piso 2), um centro de documentação (piso 3) e um auditório
e cafetaria (piso 4).