quarta-feira, janeiro 30, 2013

Dedicados à pesca


A modalidade que este senhor pratica, no estuário do Tejo por alturas de Belém, designa-se por pesca lúdica apeada, mas ele talvez não saiba. Possivelmente está simplesmente a pescar, para matar o tempo e a ver se algum peixe pica, que sempre sai mais em conta.

Pois a pesca lúdica apeada - assim chamada para se distinguir da pesca lúdica a bordo de embarcação - está sujeita a um vasto conjunto de leis e regras. Para já, a pesca lúdica apeada pode realizar-se a partir de um molhe ou barra de um porto, desde que as condições do mar não coloquem em risco a vida do pescador, e sempre a mais de 100 metros de um porto de abrigo, doca, estaleiro ou - o que não é menos importante - de uma saída de esgoto. Também não é permitido pescar em portos de pesca ou marinas de recreio, ou em praias concessionadas durante a época balnear.

Postas estas questões prévias, temos que cada pescador lúdico apeado tem de manter-se à distância mínima de 5 metros do pescador lúdico apeado mais próximo.


Por último, a prática da pesca lúdica apeada está sujeita a uma licença de pesca lúdica que, pedida na capitania de Lisboa, abrange uma área desde a Torre de São Julião da Barra, inclusive, até ao paralelo junto ao lugar de Galherão, a norte da Lagoa de Albufeira, incluindo as águas interiores não marítimas do Rio Tejo e os seus braços.

Posto isto, dedicai-vos à pesca. E que o peixe pique.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados

Histórias que os filmes contaram sobre Lisboa


Um pequeno livro de 120 páginas, retangular, paginado ao baixo, reencontrado na biblioteca doméstica, permite-nos ir ao encontro de “histórias que os filmes contaram” sobre Lisboa ou em Lisboa.
 
O livro é o precioso “Lisboa a 24 imagens”, de Manuel Costa e Silva, português, diretor de fotografia de cinema, falecido em 1999 com 60 anos de idade. O livro reúne textos originais da autoria de gente de algum modo ligada ao cinema, recolhe memórias dispersas e faz o elenco, com súmula do argumento e da ligação à cidade, fotos e/ou cartaz, de 114 filmes nacionais e estrangeiros selecionados pelo autor que têm Lisboa como cenário ou como mito.
Infelizmente, o livro acaba, tal como a vida do autor, na década de 90, a década de “A Casa dos Espíritos”, de Billy August, “Até ao Fim do Mundo”, de Wim Wenders, “O Inverno em Lisboa”, de Jose Antonio Zorrilla, entre outros.
Na década anterior, Lisboa inspirara ou fora cenário de filmes como A Casa da Rússia”, de Fred Schepisi - retomando a velha senda da cidade para encontros de espiões -, “A Cidade Branca”, do suíço Alan Tanner, ou “The Young Toscanini”, de Franco Zefirelli, filme nunca estreado em Portugal, em que o porto de lisboa aparece como sendo o de Génova. Por Lisboa também passaram, nos anos 70, “Madigan”, um clássico policial que começou no cinema e seguiu em série de TV, com Richard Widmarck, bem como o primeiro filme inspirado no género James Bond, “Cabeça de Martelo”, de David Miller.

Os filmes portugueses passam pelas décadas de 90 a 60 com Fernando Lopes, “O fio do horizonte”, “Nós por cá todos bem”, “Crónica dos Bons Malandros” e “Belarmino”, Eduardo Geada, “Passagem por Lisboa” e “Saudades para Dona Genciana”, Joaquim Leitão, “Uma cidade qualquer” e “Ao fim da noite”, João César Monteiro, “Recordações da Casa Amarela”, José Fonseca e Costa, “Kilas o mau da fita” e “Sem sombra de Pecado”, Fernando Matos Silva, “O Mal amado”, Paulo Rocha, “Os verdes anos”, Ernesto de Sousa, “Dom Roberto”. Mais para trás figuram as comédias dos anos 40 e no início da história estão “Os crimes de Diogo Alves”, de João Tavares (1911).
Manuel Costa e Silva não se inclui a si próprio na seleção. Mas realizou dez filmes e foi diretor de fotografia em 26 longas e 28 curtas e médias-metragens.
E se tivermos que escolher um entre 114 filmes, respeitando a seleção de Manuel Costa e Silva, a escolha vai para “La Peau Douce”, de François Truffaut, exibido em Portugal com o título “Angústia”, a imagem que o autor escolheu para a capa do livro, com Françoise Dorléac e Jean Desailly passeando junto ao ascensor da Bica.
 
O livro encerra com uma melancólica digressão pela memória dos nossos Cinemas Paraíso:
Éden, Paris, Salão Lisboa, Jardim Cinema, Royal, Odeon, Berna, Olimpia…
Hoje a lista teria mais algumas páginas: Império, Condes, Quarteto, etc., etc.
Entretanto, os jornais desta manhã anunciam o encerramento de 49 salas por todo o País, esmagadas pela concorrência e pelo IVA.
A Região do Açores, o distrito de Viana do Castelo, as cidades da Covilhã, São João da Madeira, Loures e Seixal ficam sem qualquer sala de cinema.


Veja também

 

terça-feira, janeiro 29, 2013

Um Vice-Rei pairando na brisa da tarde *


Foi quase tudo o que, na dobra do século XV para o XVI, um homem podia ser: capitão-mor da Costa da Arábia, conquistador de Goa e de Malaca, diplomata em Sumatra e Sião, nas Molucas e na China, prisioneiro em Cananor e náufrago da "Flor de la Mar", salvando-se "apenas com a roupa que trazia", administrador em Goa, conquistador de Ormuz, governador e depois Vice-Rei da Índia: Afonso de Albuquerque, O Grande, César do Oriente, Leão dos Mares, o Terribil, o Marte Português, Senhor do Mar Vermelho, ali está, na Praça de Belém à qual dá o nome, de frente para o Tejo e de costas para o Palácio. 

Esta luz é do fogo e das luzentes
Armas com que Albuquerque irá amansando
                                   De Ormuz os Párseos, por seu mal valentes,
Que refusam o jugo honroso e brando.”
Camões, Os Lusíadas, Canto X, estrofe 40

“De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
                                                  De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
                                                          (…) Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.”
Fernando Pessoa, Mensagem, A outra asa do grypho 
 

Uma destas tardes de inverno, o Vice-Rei pairava pela brisa enevoada da tarde e sobre a copa dos lódãos e pinheiros-mansos, olhando o Tejo, observando o que a História fez do areal e do Real Cais de onde partiam e onde chegavam as caravelas, e pensando na vida.
Grande Homem. Por sinal, em 1515, Dom Manuel enviou Lopo Soares de Albergaria para o substituir na governação da Índia. O Rei arrependeu-se mais tarde de ter desconfiado da lealdade do Vice-Rei e escreveu ao substituto pedindo-lhe que devolvesse o cargo. Mas quando a carta chegou a Goa, Afonso de Albuquerque já havia falecido.
Morreu amargurado e vive agora em bronze.


 * Um Deus passeando pela brisa da tarde, título do escritor Mário de Carvalho, incluído no Index da Opus Dei de 79 livros de autores portugueses.


Texto e fotos de Beco das Barrelas / Direitos reservados.
 

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Pouco barulho!


Medições realizadas pela Quercus revelam dados preocupantes sobre os níveis de ruído na cidade de Lisboa, em termos de exposição ao ruído de tráfego, com níveis muito próximos do limiar de dor para o ouvido humano.
As avenidas Fontes Pereira de Melo, Entrecampos, Braço de Prata, Segunda Circular e Avenida do Brasil - onde se cruzam o ruído rodoviário com o aeroportuário -, ultrapassando os 100 decibéis durante o dia, e a Segunda Circular, no período noturno, com mais de 75 decibéis, são os maiores pontos negros da cidade em relação a ruído. Várias medições de ruído foram realizadas pela associação em pontos críticos da cidade de Lisboa, evidenciaram níveis acima dos valores considerados de referência para a proteção para a saúde humana, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Os níveis mais elevados de ruído verificaram-se durante o período diurno (das 07h-20h), em todos os locais de medição, sobretudo onde prevalece o ruído de tráfego rodoviário - como a 2ª Circular/Eixo Norte-Sul e zona do Marquês de Pombal/Baixa de Lisboa - e aeroportuário - zona do Campo Grande/Av. Brasil.

Além da lei nacional, o ruído é abrangido por uma diretiva comunitária, que obriga os Estados-membros a elaborarem e aprovarem mapas estratégicos de ruído para as zonas com maior densidade populacional. Numa primeira fase, Lisboa foi o único município abrangido por esta obrigatoriedade, que cumpriu, mas tem ainda em falta a elaboração do plano de ação. O mesmo acontece com o Aeroporto de Lisboa, cujo plano está em reformulação.
Tendo em conta os resultados das medições de ruído realizadas pela Quercus e que comprovam a ultrapassagem de valores de referência para a proteção da saúde, a Quercus aguardará até final de março de 2013 - um ano após a data prevista a nível nacional e 9 meses depois do prazo estabelecido na Diretiva - para apresentar uma queixa à Comissão Europeia.
A Quercus alerta que o excesso de ruído pode provocar surdez temporária e outros problemas de saúde.

Mais informações no site da Associação Nacional de Conservação da Natureza, Quercus:
 
Já agora: escolha aqui o seu ruído insuportável "preferido": os camiões de recolha do lixo pela meia-noite, uma, duas da manhã? Os alarmes de automóveis ou de empresas a tocarem incessantemente sem que os interessados se dignem ver o que se passa? Os aviões a fazer a aproximação ao aeroporto sobre Campolide, Bairro Azul, Campo Grande?
Os automobilistas desesperados que pensam que resolvem os engarrafamentos, para os quais também contribuem, buzinando? Os "raides" de motards acelerando sob as pontes e viadutos da cidade? Os ruídos de obras intermináveis? As caravanas de campanhas eleitorais? Outros?
 
Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Escolha: O presente ou o futuro Museu dos Coches?


As futuras instalações do Museu.
Para o lado do rio é um paredão branco.
Quem desembarca na estação ferroviária de Belém, ido do Cais de Sodré, e não tenha passado por ali nos últimos tempos, leva um verdadeiro murro no estômago se olhar, sobre a direita, na direção da Calçada da Ajuda. É que está ali em adiantada construção um verdadeiro “muro da vergonha”, um paralelepípedo branco, gigantesco, de volume faraónico, que corta a vista do rio para terra e de terra para o rio.
“Aquilo” vai ser o futuro Museu dos Coches. Trata-se de um com projeto do arquiteto brasileiro Paulo Archias Mendes da Rocha, prémio Pritzker de 2006, construído pela Mota & Engil e que já vai orçamentado em 40 milhões, tendo começado nos 31 milhões, avançado para os 38,8, e chegando agora aos 40.
A área total de construção é de aproximadamente 22.000 m2, com o Pavilhão de Exposições, de aproximadamente 15.200 m2, constituído por 2 pisos elevados. O projeto prevê a existência de 7.500 metros quadrados destinados a estacionamento e ainda uma área de espaços exteriores de 13.500 metros quadrados. Com tanta área, o projeto bem escusava de ter tal volume.

Um dos museus mais visitados em Portugal
O edifício do que é ainda o Museu Nacional dos Coches foi construído em 1726 para Picadeiro Real do Palácio de Belém. Em 1905 foi transformado em Museu dos Coches Reais. Apesar da exiguidade das instalações tem sido dos museus da rede pública mais visitados de Portugal. Em 2009 recebeu 197,7 mil visitantes. O Museu tem um espólio valiosíssimo de coches que abrangem três séculos, dos coches barrocos feitos em Roma para o embaixador português no Vaticano à sege que é considerada o primeiro táxi de Lisboa.
 
 
A construção das novas instalações tem sido sempre marcada pela polémica, chegando recentemente a ser aventada “outra” utilização para as instalações, o que não resolve o problema do “mamarracho” que vai ficar plantado a cortar a vista numa das zonas turísticas mais visitadas de Lisboa.
Velhinho de três séculos, insuficiente para o valioso espólio que possui, o velho Museu dos Coches tem uma volumetria e uma implantação discretas no local e uma incomparável dignidade.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Cantemos ao Fado


Aldina Duarte, com amigos e casa cheia na Culturgest, e Ana Moura, com duas noites no CCB, colocam o Fado na ordem dos dias em Lisboa. E podia acrescentar-se ao cartaz Katia Guerreiro na Casa da Música, António Zambujo em Torres Novas, Teresa Tapadas em Ourique. Já aqui se disse que o título de Património da Humanidade deu ao Fado uma nova projeção no mundo. Mas cá por casa o Fado tem, de há alguns anos, uma alma nova, novos e talentosos fadistas e instrumentistas, novos públicos.
Cantemos pois ao Fado.
 
 


Do alto do miradouro / da cidade
Com olhos molhados vejo / o que eu adoro
De cabelos cor de ouro / mocidade
Da Lisboa mira tejo / onde eu moro.
Ary dos Santos / Alfredo Duarte
Repertório de José Manuel Osório





Tem navios nas vogais
Gaivotas nas consoantes
Em cada sílaba um cais
Para o mar de nunca dantes
Lisboa tem brancas velas / Suas letras são sinais
Caravelas, caravelas / Que não voltam nunca mais
Manuel Alegre / João Braga
Repertório de João Braga
 


Gosto da tua ternura
Da maneira de abraçar
Do teu jogo de cintura
Nem vale a pena falar

Gosto de ti como és
Feita para regressar
A fingir que não vês
Despida até aos pés
Deitada á beira-mar
João Monge / Bernardo Sassetti
Repertório de Joana Amendoeira
 


Lisboa, já te vi da outra margem
Penélope deitada á beira-tejo
Esperando que ele regresse de viagem
Tecendo ponte a ponte o teu desejo
Rosa Lobato de Faria / Miguel Ramos
Repertório de Mísia








Tal qual esta Lisboa, roupa posta á janela
Tal qual esta Lisboa, roxa jacarandá
Sei de uma outra Lisboa, de avental e chinela
Ai Lisboa fadista, de Alfama e oxalá
Nuno Júdice / Joaquim Campos
Repertório de Carlos do Carmo

Fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Lisboa, o Tejo e os Poetas


Ó Céu azul - o mesmo da minha infância - // Eterna verdade vazia e perfeita! // Ó macio Tejo ancestral e mudo
// Pequena verdade onde o céu se reflecte! //
Álvaro de Campo, Lisbon revisited (1923)
 

Ó Lisboa das meigas Procissões! // Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas! //
Ó Lisboa dos líricos pregões... // Lisboa com o Tejo das Conquista, //
Mais os ossos prováveis de Camões! // Ó Lisboa de mármore, Lisboa!
// Quem nunca te viu, não viu coisa boa...
António Nobre, Lisboa das naus

Torre de Belém (...) Quase flutuas, sim, tu és um barco. // E, á ponte de comando, // eu sinto-me um rei súbito cismando// no branco dos velames,
// na solidão das quilhas e dos mastros (..)
João Rui de Sousa, Lisboa com seus poetas

É uma nação única de memórias do mar, // que não responde senão em nós.
// Glórias, misérias, // que guardámos por detrás do olhar lírico
// e da língua, a silabar dentro da boca. //
Nunca chamámos o mar nem ele nos chama //
mas está-nos no palato como estigma.
Fiama Hasse Pais Brandão, Foz do Tejo, um País

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, //
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia //
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. //
O Tejo tem grande navios // E navega nele ainda,//
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,//
A memória das naus.
Alberto Caeiro,
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Fotos de Francisco João / Direitos reservados.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Lisboa no seu "melhor"

 
A Esperança anda muito por baixo 
Em direto para a saída







Com "Fusão"

 
Castanhas para a tosse
Fotos e legendas de Beco das Barrelas / Direitos reservados. 

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Autárquicas vão pregar para outras freguesias

Fonte: CML A Proposta para novas freguesias de Lisboa foi aprovada


 
Lisboa perdeu 29 das antigas 53 freguesias com a entrada em vigor da lei sobre a Reorganização Administrativa do Território das Freguesias. Agora são só 24. Nove freguesias escaparam à agregação e mantêm a designação e território: Benfica, São Domingos de Benfica, Carnide, Lumiar, Ajuda, Alcântara, Campolide, Beato e Marvila. Santa Maria dos Olivais só muda de nome: simplesmente Olivais. Há uma freguesia inteiramente nova, o Parque das Nações. E depois começa a agregação.
Santa Maria Maior

O caso mais assombroso é o da nova freguesia de Santa Maria Maior - a designação oficial da Sé de Lisboa - que vai do Chiado ao cimo do Castelo, passando pela Baixa, englobando Alfama e Mouraria, num total de 13 antigas ex-freguesias: Mártires, Sacramento, Santa Justa, São Nicolau, Madalena, Sé, Socorro, São Lourenço, São Cristóvão, Santiago, Castelo, São Miguel e Santo Estevão.
De resto, a Ameixoeira mais a Charneca deram a freguesia de Santa Clara; Santa Maria de Belém e São Francisco Xavier juntam-se na freguesia de Belém; Alvalade, Campo Grande e São João de Brito são agora simplesmente Alvalade; o Alto do Pina junta-se a São João de Deus na freguesia do Areeiro; Anjos, Pena e São Jorge de Arroios constituem a freguesia de Arroios; Nossa Senhora de Fátima e São Sebastião da Pedreira dão a freguesia das Avenidas Novas; Coração de Jesus, São José e São Mamede constituem a freguesia de Santo António; Santa Isabel e Santo Condestável dão Campo de Ourique; Lapa, Prazeres e Santos-O-Velho compõem a freguesia da Estrela; a nova freguesia da Misericórdia integra Encarnação, Mercês, Santa Catarina e São Paulo; a Penha de França engloba a antiga freguesia de São João; Graça, Santa Engrácia e São Vicente de Fora ficam englobadas no nome desta última freguesia.
 
Aos Anjos juntam-se a Pena e S. Jorge de Arroios
A proposta de recomposição e redução das freguesias de Lisboa foi negociada pelo PS e PSD e aprovada na Câmara pelos vereadores socialistas e um social-democrata, com o voto contra do PCP, cinco abstenções de vereadores do PSD e do vereador do CDS. Votada e aprovada no Parlamento a lei geral da reorganização administrativa das freguesias para todo o País foi aprovada pela maioria PSD / CDS, com os votos contra do PS, PCP, BE e PEV. Inicialmente vetado pelo chefe do Estado, o movo mapa das freguesias de Lisboa foi promulgado em segunda via.

Posto em vigor em ano de eleições autárquicas, é certo e sabido que o novo mapa das freguesias vai dar uma confusão das antigas.

Ver aqui um dos primeiros textos do Beco das Barrelas

Leia aqui a posição da Associação Nacional de Freguesias 

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Em Lisboa com Cesário Verde *


(…) Nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu sei já bem (…)
* Eugénio de Andrade, Em Lisboa com Cesário Verde

Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 25 de Fevereiro de 1855, na Rua da Padaria, ao lado do Arco Escuro, e viveu, sucessivamente, na Rua dos Fanqueiros, no Salitre, nas Trinas do Mocambo, à Lapa, no Largo de São Sebastião.

Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Cesário Verde, Num bairro moderno

A alternativa a Lisboa, ao tempo fustigada por sucessivas epidemias, eram as “eiras, prados e lezírias” da quinta de Linda-a-Pastora.

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
                                                 Cesário Verde, De tarde

Prestou exames da instrução primária em 1865, na Academia das Ciências, no Convento de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco, frequentou o Curso Superior de Letras, trabalhou no estabelecimento de ferrageiro do pai, na Rua dos Fanqueiros, fez a sua estreia literária em 1873, no Diário de Notícias, situado na Rua dos Calafates.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Cesário Verde, Sentimento de um Ocidental

A sua última residência foi no Lumiar, onde veio a morrer tuberculoso em 19 de Julho de 1886. Trinta e um anos!
Está sepultado no Cemitério dos Prazeres, em jazigo da família.  
Um ano após a sua morte, o seu amigo Silva Pinto organizou O Livro de Cesário Verde, compilação que veio a ter a primeira edição em 1901.
O poeta tem um busto num pequeno jardim da Estefânia e na estação do Metropolitano de Lisboa na Cidade Universitária estão transcritos dois versos de Cesário Verde:

Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse
e conseguisse a perfeição das cousas

Texto de fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Boémia de outros tempos


O Ritz, Sempre em Festa
Quando comecei a trabalhar nos Noticiários do velho RCP tomei conhecimento de um número de emergência anotado por baixo do vidro do tampo da secretária. Em caso de urgência, aquele era o número para, fora de horas, falar com o diretor de informação. Um dia liguei. Responderam-me do Ritz Clube. Aquele era o contacto de urgência do meu diretor, o número de telefone do Sempre em Festa, do Cabaret da Concha. No Ritz Clube passava-se bem a noitada. Até dava para cortar o cabelo ou fazer a barba e atacar num bacalhauzinho quando a noite já ia adiantada. Aqui encontrava por vezes o Mário Alberto, que era mais de copos ao balcão, subindo e descendo a Avenida da Liberdade.
Para comer fora de horas a escolha não era muita. Havia o Napoleão, na Infante Santo, a Alga, na Conde de Sabugosa, a cantina do mercado das Avenida das Forças Armadas, um ou outro restaurante do Parque, onde morava o Mário Alberto.

Não muito longe da Ritz ficava o Maxime, guardado à porta pela figura imponente do Jaimery, o Feroz Jaimery ou simplesmente o Jaime, campeão de luta livre americana, adversário implacável de Tarzan Taborda, Carlos Rocha, do espanhol Saludes. E o Maxime chegou a ser um cabaret à séria, com atrações nacionais e internacionais, corpos de baile e striptease. A memória viva que chegou aos nossos dias já era de um cabaret rasca, uma casa de alterne, com meninas a beberam ginger ale a fingir que era champanhe pago à taça e à ficha por parolos endireinhados.
As ruínas do Dominó, no Parque Mayer
 
Mais abaixo, já às portas do Parque, era a Cova do Galo. Balcão no rés-do-chão, para comes e bebes tardios, e copos e dança na cave com a música do Eugénio Pepe. Poucos saberão que o Eugénio Pepe que tocava até de manhã na Cova do Galo foi o compositor da canção “Vamos dormir”, com que a RTP mandava os meninos para a cama. Passado o portão do Parque havia o Cantinho dos Artistas e o Dominó, onde cantou o Fausto nos anos 74/75.
 
A Lontra continua
O mais roscofe no género era o Bolero, na Rua de São Lázaro, à saída do Martim Moniz em direção a S. José. Um pianista cego e um baterista coxo encarregavam-se da música. As “meninas” tratavam do resto. Conta-se que um dia um conhecido marialva lisboeta resolveu levar consigo a namorada, para que ela apreciasse o ambiente. Primeira e última boca que ouviram antes de sairem porta fora: “Olha este vem ao restórante e traz o c'mer de casa!”. Aqui paravam os retardatários.
O restaurante era no primeiro andar.

A Lontra, na Rua de S. Bento, era e é mais dança e muitos copos. Foi a primeira discoteca africana a atrair outras clientelas, intelectuais e boémios, num local que não era propriamente para conversar. Aqui encontrava por vezes o Eduardo Guerra Carneiro.
O Jamaica tem a vizinhança do ´Tokyo
Para conversar, e conspirar, ou namorar, ou embebedar-se civilizadamente, era o Procópio, um bar com decoração Arte Nova com o bom gosto da Alice Pinto Coelho.
E para beber ao som da música o melhor era o Jamaica, no Cais de Sodré. Fundado no início da década de 70, o Jamaica dava para passar a noite até às seis da manhã pelo consumo mínimo de três imperiais: 7 mil e 500. Grande música e o responsável era o Mário Dias: Eric Clapton e Zeca Afonso, Bob Marley e Xutos, Steppenwolf e Fausto, Nina Haggen e Rui Veloso. E na despedida da noite o Mário punha a rodar The Band, The Last Waltz 
E depois? Depois havia sempre e pelo menos o Cacau da Ribeira.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados

terça-feira, janeiro 15, 2013

À mesa no Bairro Alto

O Bairro Alto tem oferta para todas as horas do dia e da noite e há quem se queixe disso e com certa razão. Mas há uma oferta que faz do Bairro um local procurado a horas decentes e que fortalece a economia local. Ou, pelo menos, fortalecia até “à crise”: a restauração.
Tasca do Manel, na esquina da R. da Barroca
com a Trav. dos Fiéis de Deus
O Bairro Alto tem um pouco mais de uma centena de restaurantes - número variável com aberturas e fechos - com todo o tipo de menu e de serviço. Do requintado Pap'Açorda à mais humilde taberna, da boa cozinha portuguesa do Farta Brutos, do 1º de Maio, ou da Tasca do Manel, à cozinha italiana, espanhola, francesa, brasileira, árabe, chinesa, japonesa, tibetana, paquistanesa, russa, vegetariana, eu sei lá que mais. E há os restaurantes / casas de fado, onde por melhor que seja o fado, comer não é certamente a melhor recomendação.
Farta Brutos, esquina da Trav. da Espera
com a R. das Gáveas
Se incluirmos os arredores, a oferta alarga-se desde o Belcanto, do chefe José Avilez, no largo do São Carlos, ao Faz Frio, uma velha tasca de marinheiros, com duas pequenas salas para reservados, na Rua D. Pedro V; ou do finório e muito caro Aqui há Peixe, na Rua da Trindade, ao popular café Buenos Aires, nas Escadinhas do Duque.
Há uma década, muita coisa era bem diferente, o melhor crítico português de gastronomia, David Lopes Ramos (1948 - 2011), distinguiu três restaurantes do Bairro Alto: o Pap’Açorda, Rua da Atalaia, como “casa de culto e com toda a justificação”; o 1º de Maio, que ainda era do senhor Santos, Rua da Atalaia, como “lugar de frequência obrigatória para quem gosta de comer do bom e de beber do melhor”; e o Casanostra, travessa do Poço da Cidade, “espaço de cozinha italiana moderna e muito bem feita”. Talvez o grande David corrigisse hoje um ou outro ponto da sua opinião.

Por nossa conta e risco, com base nos critérios de qualidade e da relação qualidade / preço, arriscamos uma lista de recomendações: Antigo 1º de Maio, Rua da Atalaia, 8; As Salgadeiras; Rua das Salgadeiras, 18; Caracol, Rua da Barroca, 13; Casanostra, Travessa do Poço da Cidade, 60; Farta Brutos, Travessa da Espera, 20; Tasca do Manel, Rua da Barroca, 24; Ali-à-Papa, cozinha árabe, Rua da Atalaia, 95; Rosa da Rua, Rua da Rosa, 265; para quem possa pagar sem olhar para a conta, o Pap’Açorda, Rua da Atalaia, número 57.
Bom apetite e bom proveito.

Texto e fotos Beco das Barrelas
/ Direitos reservados
À memória do David
 

Ver também:

Uma Palmeira na Baixa

 

O Pátio das comidas

 

Burras assadas é no Beco das Surradores

 

Da Mensagem ao miniprato

 

A tradição já não é o que era

 

Stop! Paragem obrigatória

 

Comes e bebes

 

Bom, abundante e bem confecionado