Foi quase tudo
o que, na dobra do século XV para o XVI, um homem podia ser: capitão-mor da
Costa da Arábia, conquistador de Goa e de Malaca, diplomata em Sumatra e Sião, nas
Molucas e na China, prisioneiro em Cananor e náufrago da "Flor de la Mar",
salvando-se "apenas com a roupa que trazia", administrador em Goa,
conquistador de Ormuz, governador e depois Vice-Rei da Índia: Afonso de
Albuquerque, O Grande, César do Oriente,
Leão dos Mares, o Terribil, o Marte Português, Senhor do Mar Vermelho, ali está, na Praça de Belém à qual dá o
nome, de frente para o Tejo e de costas para o Palácio.
“Esta luz é do fogo e das luzentes
Armas
com que Albuquerque irá amansando
De
Ormuz os Párseos, por seu mal valentes,
Que
refusam o jugo honroso e brando.”
Camões,
Os Lusíadas, Canto X, estrofe 40
“De pé, sobre os
países conquistados
Desce os olhos
cansados
De ver o mundo
e a injustiça e a sorte. (…) Sob o seu passo fundo.
Três impérios
do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como
quem desdenha.”
Fernando
Pessoa, Mensagem, A outra asa do grypho
Uma destas
tardes de inverno, o Vice-Rei pairava pela brisa enevoada da tarde e sobre a
copa dos lódãos e pinheiros-mansos, olhando o Tejo, observando o que a História
fez do areal e do Real Cais de onde partiam e onde chegavam as caravelas, e
pensando na vida.
Grande Homem.
Por sinal, em 1515, Dom Manuel enviou Lopo Soares de Albergaria para o substituir
na governação da Índia. O Rei arrependeu-se mais tarde de ter desconfiado da
lealdade do Vice-Rei e escreveu ao substituto pedindo-lhe que devolvesse o
cargo. Mas quando a carta chegou a Goa, Afonso de Albuquerque já havia
falecido.
Morreu amargurado
e vive agora em bronze.
* Um Deus passeando pela brisa da tarde, título do escritor Mário de Carvalho, incluído no Index da Opus Dei de 79 livros de autores portugueses.
Texto e fotos
de Beco das Barrelas / Direitos reservados.
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