quinta-feira, março 28, 2013

Alguma coisa mexe no Parque


O Teatro Variedades avança, ainda este ano, para obras de requalificação, anunciou o presidente da Câmara de Lisboa. Ao mesmo tempo, vai avançada a reabilitação do Teatro Capitólio, convertido em Teatro Raul Solnado, mesmo em frente do Variedades. Entretanto, o Teatro Maria Vitória tem vivido aos soluços.
De resto, fechou tudo no Parque, menos o restaurante da Gina. Morreram os últimos habitantes, o cenógrafo e pintor de génio Mário Alberto, e a Mimi, coproprietária, com as duas irmãs - Amadora e Vitória -, do que foi um simples e simpático bistrô 
 
 
 
 
O Parque Mayer transformou-se num gigantesco e caótico estacionamento de automóveis, desde que a Câmara fechou o Parque, desmantelou a Feira Popular e se meteu numa embrulhada sem princípio nem fim de permuta de terrenos das duas áreas. Perderam-se ambos os parques de diversões, entre negócios pouco claros e projetos megalómanos. E a embrulhada de negócios para o espaço da Feira, em Entrecampos, e a área do Parque, entre a Avenida da Liberdade e o Jardim Botânico, tornou-se um romance de cordel com enredo difícil de acompanhar.
O facto de estar um teatro em reabilitação e avançar outro para o mesmo destino no espaço do Parque Mayer acende uma pequena luz ao fundo do túnel deste comboio-fantasma que foram alguns projetos na grande e belíssima cidade de Lisboa.

Texto e fotos Beco das Barrelas. D.R.

Ver também:
Parque Mayer que já foste

Mensagem do Dia Mundial do Teatro - 2013

Há muito tempo, o Poder mostrou a sua intolerância para com os actores da Commedia dell’Arte expulsando-os do país.
Hoje em dia, actores e companhias sentem grandes dificuldades em encontrar palcos e teatros públicos, bem como espectadores, e tudo por causa da crise. Portanto, os governantes já não estão preocupados em controlar os que se exprimem pela ironia e pelo sarcasmo, uma vez que, não havendo lugar para os actores, não há público a quem se fale.
 
Pintura mural no espaço do Parque Mayer, em Lisboa
Ao contrário disto, durante o Renascimento, em Itália, os detentores do poder tiveram de fazer um esforço considerável para manter os Commedianti na ordem, uma vez que gozavam de ampla audiência.
É facto sabido que o grande êxodo dos Commedianti dell’arte aconteceu no século da Contra-Reforma, que decretou a destruição de todos os espaços teatrais, especialmente em Roma, onde foram acusados de ultraje à cidade santa. Em 1697, o Papa Inocêncio XII, pressionado por insistentes pedidos da ala mais conservadora da burguesia e dos altos representantes do clero, ordenou a destruição do teatro de Tordinona onde, segundo os moralistas, se tinha levado a cena o maior número de peças obscenas.
Na época da Contra-Reforma, o cardeal Borromeo, em funções no Norte da Itália, consagra-se com empenho à redenção dos «filhos de Milão», estabelecendo um distinção clara entre a arte, enquanto mais alta forma de educação espiritual, e o teatro, manifestação de blasfémia e vaidade. Numa carta dirigida aos seus colaboradores, que cito de memória, escreve mais ou menos isto: “Nós, que nos preocupamos em extirpar a erva daninha, envidámos os maiores esforços para lançar ao fogo todos os textos contendo discursos infames, erradicá-los da memória dos homens e, ao mesmo tempo, perseguir também todos aqueles que divulgaram tais textos sob forma impressa. É evidente que, enquanto dormimos, o Diabo trabalha com redobrada astúcia. Quanto mais a alma se deixa impregnar pelo que os olhos vêem do que por aquilo que se lê nos livros! Quão mais devastador para as mentes jovens e rapariguinhas é a palavra dita e o gesto apropriado do que uma palavra morta, impressa num livro. Portanto, torna-se urgente livrar as nossas cidades da gente do teatro, tal com fazemos aos espíritos indesejáveis.”
Assim sendo, a única solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas dirigida contra nós e, sobretudo, contra os jovens que querem aprender a arte do teatro: teremos então uma nova diáspora dos Commedianti, dos fazedores de teatro, que sem dúvida retirarão de tal experiência inimagináveis benefícios em prol de novas formas de representar.

Dario Fo, Prémio Nobel da Literatura 1997

Tradução de Maria João da Rocha Afonso

quarta-feira, março 27, 2013

Três Prémios Europa Nostra atribuídos a Lisboa


No ano em que se comemoram 60 anos da sua criação, em Lisboa, a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva acaba de ganhar um prémio de elevado reconhecimento internacional, o Prémio do Património Europeu Europa Nostra 2013. A Fundação junta o Museu e a Escola e 18 Oficinas de Artes Decorativas Portuguesas.
O Museu de Artes Decorativas Portuguesas está instalado no Palácio Azurara, situado nas Portas do Sol, em Lisboa. O Palácio é do século XVII, o Museu dos anos 50 do século XX. O edifício foi anteriormente hospital, hospício, residência de famílias carenciadas, até que foi comprado por Ricardo do Espírito Santo Silva para aí instalar parte da sua coleção privada. O arquiteto Raul Lino restaurou-o como uma casa aristocrática do século XVIII, com os seus azulejos, mobiliário, tapeçarias e panos de armar.
Desenvolvido por diversas salas - o Salão Nobre, a Sala Cadaval, onde se expõe um tríptico do século XVI, a Sala Dona Maria, a Sala D. José, a Sala de Jantar, a Sala da Música, a Sala das Vitrines - o Museu permite viajar através das Artes Decorativas do século XV ao século XVIII por diferentes núcleos temáticos: Mobiliário, Têxteis, Prataria, Porcelana Chinesa, Faiança Portuguesa e Azulejos, Pintura, Desenho, Escultura, Encadernação.
Os prémios Europa Nostra deste ano distinguiram ainda o Liceu Passos Manuel, estabelecimento fundado em 1836 por decreto do Ministro do Reino, Passos Manuel, que passou por sete locais da cidade. Até que, em 9 de Janeiro de 1911, se estabeleceu no edifício na Travessa Convento de Jesus, modernizado entre 2008 e 2010. Por ali já passaram mais de 70 mil estudantes.
Outros programas e iniciativas distinguidos este ano em Portugal com o Prémio do Património Cultural da União Europeia/Europa Nostra foram o Projecto SOS Azulejo, do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico, e em Sintra o chalet da condessa de Edla, edifício do século XIX, mandado construir por D. Fernando II.
Os prémios Europa Nostra são atribuídos pela União Europeia e vão ser entregues a 16 de Junho na Acrópole em Atenas.

segunda-feira, março 25, 2013

O bacalhau dos Sapateiros


Na Rua dos Sapateiros, à direita de quem avança para o Arco de Bandeira rumo ao Rossio, defronte das luzes e cortinados vermelhos red light do velho Animatógrafo, há um cantinho de bem-comer-e-beber constituído por uma sucessão de três restaurantes populares. São eles A Licorista e O Bacalhoeiro, estes dois associados, e a Merendinha do Arco.
O bacalhau reina por estas paragens, cozinhado sem disfarces de maior. Aqui é mesmo para quem gosta de bacalhau, lascado como ele é bom, cozido com grão e legumes, assado nas brasas com batata a murro, temperado com azeite, vinagre, alho, salsa e pimenta, ou em pastelinhos ou pataniscas, com variedades de arrozes a acompanhar - embora o de feijão, diretamente da lata, se tenha sobreposto às modalidades tradicionais e deliciosas de grelos ou de tomate.
 
A Merendinha do Arco distingue-se por uma vasta e variada lista de entradas / petiscos, em que avultam carapaus e sardinhas fritas, pastéis de bacalhau, torresmos do rissol, rissóis. Uma grande variedade de sanduiches responde a eventuais necessidades de uma refeição rápida - num larga zona de serviços - para complementar um prato de boa sopa caseira.
O Bacalhoeiro e A Licorista juntam aos pratos de bacalhau, a garoupa, o robalo e a dourada na grelha, e em matéria de carnes o ensopado de borrego e a feijoada à Transmontana, para além das habituais trivialidades.
As doses são generosas e os preços em conta.
 
As três casas dispõem de listas de vinhos mas, a bem dizer, os vinhos da casa, servidos ao jarro, respondem bem à exigência dos clientes com uma excelente relação de preço / qualidade.
Em matéria de sobremesas, o arroz-doce da Merendinha do Arco é uma  referência.
 

Texto e Fotos Beco das Barrelas / D.R.




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As referências são datadas e o Beco das Barrelas não se responsabiliza por eventuais alterações na qualidade do serviço e dos produtos, numa fase em que a restauração luta para sobreviver à quebra do poder de compra dos consumidores e ao disparo do IVA para
23 por cento.

domingo, março 24, 2013

Um dia de praia


“...essa graça, enfim, sentia-a,
à beira do Tejo (...)
com fragatas e maresia...”
David Mourão-Ferreira


O passeio ribeirinho da Ribeira das Naus foi oficialmente inaugurado e com um sábado de sol os lisboetas tomaram como sua a escadaria de acesso ao rio e a pequena praia fluvial escondida pelo terramoto de 1755 e agora recriada à beira-Tejo.

 
O passeio ribeirinho requalificado e inaugurado vai do Cais de Sodré à Praça do Comércio e preenche um percurso de uma Frente que, no futuro, ligará Belém ao Parque das Nações. E agora com uma novidade recentemente conquistada: a construção do Terminal de Contentores foi afastada de Alcântara para a margem Sul. São 18 quilómetros de Frente Ribeirinha para usufruto da ligação entre Lisboa e o Tejo: diversão e lazer, estabelecimentos de restauração, ciclovias, atrações turísticas, museus, docas e terminais de cruzeiros, entre outros.


A zona agora requalificada prevê ainda nova intervenção, no futuro, com a recuperação da doca seca do antigo Arsenal da Marinha e a simulação em espelho de água da antiga Doca da Caldeirinha.

Para já, no fim-de-semana os lisboetas assumiram que Lisboa e o Tejo lhes pertencem e gozaram um dia de sol à beira do rio.

 
Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.
 
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sábado, março 23, 2013

Habemus sardinhas !!!



 

A Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) revelou as dez sardinhas, criadas por autores portugueses e estrangeiros, que venceram o concurso para a imagem de marca das Festas de Lisboa.



Chegaram quase 6.500 propostas - 5.400 portuguesas -, de 53 países diferentes, que se submeteram à avaliação. Entre as sardinhas vencedoras, há sete portuguesas, uma italiana, uma chilena e uma japonesa.

Quanto à internacionalização da sardinha, há a registar 209 sardinhas brasileiras, 173 espanholas, 172 italianas, 41 romenas, entre outras vindas de países como a Ucrânia, Sérvia, Angola, Bósnia, Cuba, Índia, Peru, Tailândia, Japão ou China.

Entre as imagens vencedoras está uma sardinha com os prédios de Lisboa (Alberto Faria), uma sardinha 'mecânica' (Bernardo Anichini), uma 'sardinha de corrida' (Bruno Silva), uma sardinha de dentadura arreganhada (Dário Santos), uma sardinha com diferentes faces (Hugo Henriques), uma sardinha em formato vídeo (João Teigas), uma 'sardinha-olho' (Leonor Brilha), uma sardinha de um bailarico (Paloma Barría), uma sardinha com pernas (Susana Marques) e uma sardinha em pintura japonesa (Yuichi Fukuda).

Sardinhas a sério,
em direto para o fogareiro, só lá para Junho.

sexta-feira, março 22, 2013

A Lisboa do comboio noturno

Santa Apolónia
O comboio noturno para Lisboa entra na estação de Santa Apolónia na página 61 do romance de Pascal Mercier. Estamos na I Parte, A Partida, e Raimund Gregorius, professor de latim, grego e hebreu, vem a Lisboa à aventura - a primeira e única da sua vida - na pista de um livro de Amadeu do Prado, médico, poeta e resistente antifascista.
 
Alfama
Encontrara o livro no bolso do casaco de uma mulher que o professor conseguira demover de uma tentativa de suicídio, em Berna, na Suíça. E não digo mais. Não estou aqui para contar o livro, que li há um par de anos, nem o filme, que não vi.
Em Lisboa, Gregorius instala-se num hotel numa transversal da Avenida da Liberdade. E na pista daquele autor, do seu livro, do mundo de ambos - que o suíço desconhecia por completo -, deambula pela Baixa, por Alfama, pelo Bairro Alto, pelos Prazeres - viaja de elétrico, no 28 claro -, sobe e desce a Rua Augusta - que não hesita em classificar como “a mais bela rua do mundo”. 
O 28
Aproveita para conhecer Camões, Sá de Miranda, Camilo, Eça, Pessoa. Sai de Lisboa para Sintra, Coimbra, o Minho e volta. E vai encontrando, nos seus contactos e leituras, algumas respostas: a ditadura, a resistência, a revolução dos cravos.

A III parte intitula-se O Encontro, e o que Gregorius encontra é a biblioteca do já falecido Amadeu do Prado, no Bairro Alto, Rua Luz Soriano, numa “casa azul” - em parte devido aos azulejos.
 
A Rua Augusta
Um contacto no Diário de Notícias - a cujo encontro vai subindo a pé a Avenida - dá-lhe a pista para um mestre de línguas clássicas, um padre, antigo professor num liceu da zona oriental de Lisboa, “já fora do perímetro da cidade”.
O liceu que encontra é uma ruína completa. Mas é a partir de uma Bíblia que encontra no liceu arruinado, do antigo professor de liceu - que localiza em Belém, no outro extremo da cidade -, de novos contactos e pistas, Gregorius encontra as respostas possíveis para as suas improváveis perguntas.
E assim pode partir para a IV parte do romance: O Regresso.
Sempre com Lisboa como protagonista.

Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

terça-feira, março 19, 2013

A Madragoa não tem certidão de idade

Roupa à janela, bandeiras de um bairro
Ninguém com absoluta certeza consegue dizer a identidade e a data do nascimento do bairro da Madragoa. Nem tão pouco estão definidos com inegável rigor os limites geográficos do bairro.
O nome pode vir de Mandrágora - como especulam uns - mas é bem provável que tenha origem nas Madres de Goa - cujo convento existiu no bairro onde ainda hoje existem os conventos das Bernardas, do Quelhas, das Trinas do Mocambo, das Inglesinhas. Pelo menos, a Rua das Madres ainda lá está e é como que uma linha de terra do bairro da Madragoa.


Pintura mural: o elogio
da limpeza urbana dá as boas-vindas
na Madragoa

Bairro pré e pós Pombalino, o espaço que a Madragoa ocupa foi por anos e séculos designado por Bairro do Mocambo. Era assim no século XV e XVI, um bairro ocupado essencialmente por negros. A arquitetura pombalina deixou a sua marca profunda no bairro, onde ainda hoje o visitante se cruza tanto com modestos pátios e habitações populares como com belíssimos palácios e palacetes.
 
Convento das Bernardas /
Museu da Marioneta
  
 
Mas já no século XX, numa publicação respeitável como é o Guia de Portugal (primeira edição da Biblioteca Nacional de Lisboa, 1924, mais recente a da Fundação Calouste Gulbenkian, 1991), a designação de Bairro do Mocambo era ainda usada, embora remendada com a referência “também conhecido por Bairro da Madragoa”.
 
E o Guia - no seu I Volume, Generalidades, Lisboa e Arredores - assinalava que por alturas da publicação original (1924) “o bairro era habitado, principalmente, por varinas, gentes dos cais, descarregadores e vendedores de pescado”, que davam ao bairro “uma pitoresca cor local”. Diz-se mesmo que a origem dos emigrantes, de Aveiro e particularmente de Ovar, deram nomes às varinas da Madragoa, por linha direta das ovarinas de Ovar.
 
Varina da Madragoa

Bairro popular, ligado ao mar, ao Tejo e ao fado, a Madragoa é um bairro carregado de história e de património que vale a pena conhecer.
 

O Tejo como horizonte




E dizem os versos de Jorge Rosa, para a música de José Fontes Rocha e a voz de Maria da Fé:
 
A Madragoa que canta desde menina
Cantigas que o mar ensina
Com o mar dança também.
Doa a quem doa, é dos bairros a rainha
E a coisa mais alfacinha
De quantas Lisboa tem.

Texto e Fotos Beco das Barrelas. D.R.

segunda-feira, março 18, 2013

Fecho da Alfredo da Costa em Tribunal


O anunciado encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, vai ser discutido em tribunal dentro de duas semanas. Depois de ter originado uma onda de contestação popular e a interposição de uma providência cautelar por um grupo de profissionais de saúde e de utentes, o caso da Alfredo da Costa vai ser apreciado pelo Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa. A juíza que tem este processo quer ouvir testemunhas antes de decidir se trava ou não o processo de encerramento, e já marcou audiências para os dias
25 e 27.
O Ministério da Saúde começou por anunciar que a Maternidade Alfredo da Costa seria impreterivelmente encerrada até ao fim do ano de 2012, o que não sucedeu.
Já no início do mês de Março de 2013, Teresa Sustelo, presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Central, garantiu que os serviços da Maternidade iam ser transferidos até ao Verão. Os serviços de urgência e cuidados intensivos de obstetrícia e ginecologia, disse então, deverão ser transferidos em Março ou início de Abril para o Hospital Dona Estefânia.

Fotos Beco das Barrelas / D. R.

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quinta-feira, março 14, 2013

Nossas companheiras, as árvores

Mosteiro dos Jerónimos, interior
O que tentam dizer as árvores
no seu silêncio lento e nos seus vagos rumores
(…)
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
António Ramos Rosa
 
Em Lisboa existem mais de 600.000 árvores: árvores com diferentes tamanhos, cores e formatos, pertencentes a 200 espécies diferentes, segundo recenseamento da Câmara Municipal.
Temos Acácia-bastarda, Acácia-do-Japão, Azinheira Quercus, Carvalho-alvarinho, Carvalho-cerquinho, Choupo-branco, Choupo-negro, Cipreste-comum, Espinheiro-da-Virgínia, Eucalipto, Freixo, Ginkgo, Jacarandá, Lódão-bastardo, Olaia, Oliveira, Palmeira-das-Canárias, Pinheiro-manso, Plátano, Plátano-bastardo, Sobreiro, Tília-prateada, Tipuana, Ulmeiro e mais 176 espécies de árvores. E as outras.
 
Raiz de árvore centenária, junto a Santa Luzia

Há árvores em jardins organizados,
plantadas com critério e rigor, como no oásis dos jardins da Fundação Gulbenkian, no Jardim Botânico ou no Jardim Botânico Tropical, no Jardim Botânico da Ajuda ou na Estufa-Fria, no Jardim da Estrela ou no Príncipe Real, no Parque de Monsanto ou no pequeno, acolhedor e íntimo Jardim das Amoreiras. Há jardins por toda a malha da cidade.
Também há árvores de identidade e origem não identificada, de geração mais ou menos espontânea. E temos árvores na berma dos passeios e das avenidas, nos largos e nas praças, nas escadinhas e, de surpresa, ao virar de uma esquina. Há ainda árvores em vasos e canteiros. Todas elas nos dão oxigénio, sombra, encosto e abrigo, ninhos, frutos e sementes, iluminam a paisagem, dão cores e cheiros à cidade. E está quase a chegar a explosão das flores dos jacarandás. Também temos árvores com corações entrelaçados para sempre.

Dão-nos tudo, as nossas companheiras árvores, pouco ou nada pedem, e muito pouco ou nada recebem.
 
Cemitério dos Prazeres
Consulte o Guia 25 árvores de Lisboada Ciência Viva, para a CML
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quarta-feira, março 13, 2013

Quer comprar um cinema? E quatro?


O Quarteto na atualidade
O espaço das quatro salas do antigo cinema Quarteto, na Rua Flores de Lima, em Alvalade, continua à venda. Quando a Inspeção-Geral das Atividades Culturais fechou o Quarteto, em Março de 2008, disse-se que o cinema reabriria assim que voltasse a ter condições.
Mais tarde também se disse que o que faltava era um investidor. E por fim, quando já ninguém acreditava que o Quarteto reabrisse, ainda se disse que a Câmara Municipal admitia classificar as salas do cinema Quarteto como espaço de interesse cultural.
 
Entretanto, pouco depois de ter entregado as chaves aos senhorios do imóvel, o fundador do Quarteto morreu, sabe-se lá se de tristeza a agravar a falta de saúde. E foi aí que todos os cinéfilos de Lisboa tiveram a certeza que o Quarteto não voltaria jamais a abrir as portas.

É só telefonar
O cinema Quarteto foi fundado em Novembro de 1975, por Pedro Bandeira Freire, e foi o primeiro espaço multissalas de Lisboa. Quatro salas, quatro filmes foi uma receita de sucesso ao longo de duas décadas. O Quarteto celebrou os 25 anos exibindo 25 filmes, a preços de 1975. E comemorou os 28 anos com uma "nova política", que passava por uma maior exibição de exclusivos nas suas salas. Terá sido aí que o Quarteto deu um fatal passo em frente. A viragem da distribuição/exibição encaminhava-se para uma massificação em torno de um número reduzido de títulos.

E quem comprar o cinema ainda leva
uma coleção de postais disponível
na bilheteira
Foi a este guião que o Quarteto não resistiu. Se ao menos se tivesse consumado a classificação das salas como espaço cultural o Quarteto ainda ficaria livre de acabar convertido numa drogaria, na sede de uma seita religiosa ou numa clínica. Esta última hipótese esteve em cima da mesa por um dos interessados na compra do espaço do antigo Quarteto, à venda por qualquer coisa como dois milhões de euros.
Ao menos não nos podemos queixar de não termos os nossos Cinemas Paraíso.
 

Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

terça-feira, março 12, 2013

Lisboa: Cerca Velha, Cerca Nova


Portas de Alfofa, do Condestável, de Ferro, de Santa Catarina, de Santo André, de Santo Antão, Portas de S. Vicente, da Mouraria, Porta de Alfama, Porta do Mar Antiga, Portas da Rua do Regedor…
 
Estas eram as portas da cidade em dois tempos históricos bem distintos: antes da conquista de Lisboa, eram as portas visigóticas e as da Cerca Moura, que defendiam a cidade muçulmana, depois da conquista e mais propriamente depois do reinado de D. Fernando, eram portas da Muralha Fernandina que protegiam a cidade medieval. Cerca Velha, Cerca Nova.
A Cerca Moura reforça o acesso a Alfama,
a partir da Porta do Sol, ao longo
da rua Norberto Araújo
Muitos séculos separam as duas muralhas. A Cerca Moura ou Cerca Velha foi concluída no século VIII e reconstruída várias vezes, deixando acessos pelas portas do Sol, de Alfama, do Mar Antiga, de Ferro e a Porta da Alfofa. A Muralha Fernandina foi mandada construir por D. Fernando e dada como concluída em 1373, abrangendo uma área de 101 hectares, seis vezes a área defendida pela Cerca Velha.
Troço da Muralha Fernandina que chegava
às portas de Santa Catarina e que ficou
absorvido pelo Espaço Chiado
A Muralha começava no Castelo de S. Jorge, descia à Mouraria, transpunha a calçada de Sant’Ana, atravessava o vale onde é hoje a Avenida da Liberdade, subia a colina fronteira até ao que é hoje o Carmo e São Roque, atravessava a baixa e ligava-se à Cerca Moura na atual Praça do Comércio, subindo depois a S. Vicente e descendo de novo até ao que é hoje o Museu Militar e Santa Apolónia.
 
Ao longo do itinerário muralhado, ficavam acessos nas Portas da Mouraria, de Santo André, de Santo Antão, Portas da Rua do Regedor, de Santa Catarina, de S. Vicente e descia até junto ao que é hoje o Museu de Artilharia, em Santa Apolónia.
Sobreviveram ao terramoto de 1755 e ainda existem lanços das cercas e muralhas, tal como ficaram na toponímia muitos dos nomes das portas. É assim Lisboa, com a história gravada na pedra da cidade.
 
Texto e fotos Beco das Barrelas. Direitos reservados.

segunda-feira, março 11, 2013

Sinal de trânsito com 327 anos

 
O édito de D. Pedro II (1686)
 
Será provavelmente o mais antigo de Lisboa, talvez o mais vetusto de Portugal, eventualmente o mais arcaico do mundo. Data de 1686, ano em que o Rei D. Pedro II o mandou gravar em pedra e implantar numa transversal da Rua das Escolas Gerais, a Rua do Salvador, para regular a circulação e as prioridades de coches, seges e liteiras, que geravam com frequência situações de confronto na zona. Séculos mais tarde, nas Escolas Gerais, o trânsito de carros elétricos também gerou conflitos solucionados por sinaleiros voluntários que manejavam uma placa de sinalização, verde de avançar, de um lado, e vermelha de parar, do outro.

A pedra do tempo de D. Pedro II ainda lá está, entre os números 26 e 28 da Rua do Salvador, na antiga freguesia de Santo Estevão, Alfama, bem mais abaixo da altura dos olhos de um homem de estatura mediana e um pouco acima de uma caixa de ligação elétrica.
Reza assim o édito de D. Pedro II:

Entre os números 26 e 28
Ano de 1686
 
Sua Majestade ordena

que os coches, seges e liteiras

que vierem da Portaria

do Salvador recuem

para a mesma parte


A entrada na Rua das Escolas Gerais
para a Rua do Salvador
 
Naquele tempo a Rua do Salvador, que hoje liga a Rua das Escolas Gerais à Rua de São Tomé, estabelecia a ligação das portas do Castelo de São Jorge com a baixa da cidade. Anteriormente, aquela era a zona do Bairro dos Escolares, até que no início do século XIV os Estudos Gerais foram transferidos para Coimbra, regressando a Lisboa nos anos 30 do mesmo século.

A placa de pedra lá está, registando um édito de D. Pedro II - cognominado O Pacífico e que descansa para a eternidade ali perto, no Panteão dos Braganças -, desafiando os séculos e a memória.
Que a cidade proteja o seu testemunho.

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.