Sebastião José
de Carvalho e Melo, conde de Oeiras mais conhecido como Marquês de Pombal, é o
político português que ocupa há mais tempo a mesma posição na vertical: está há
78 anos de pé, no alto de um pedestal de 40 metros, com um leão pela trela e,
no momento em que foi registada a foto, com uma pomba no alto da cabeça. O
Marquês olha de frente a sua obra, a Baixa Pombalina, e para além dela vê o
Tejo e a outra banda. O cenário fá-lo-á recordar a todo o momento aquele
funesto dia 1 de Novembro de 1755. Mas o Marquês fica sozinho com a sua memória
e, de vez em quando, com algum remorso. “Azar dos Távoras”, terá murmurado
certa vez, de acordo com uma fonte próxima que pediu anonimato.
De outra vez,
e segundo outra fonte, o Marquês terá lamentado que o poder em Portugal não o
ouça. É certo que foi uma déspota, mas esclarecido. E também foi um adepto do
iluminismo. Ainda hoje há amoreiras e bichos-da-seda por todo o País. E
produziu reformas políticas, sociais e educativas. Também é verdade que
expulsou os jesuítas. E não é menos verdade que os autos-de-fé e a escravatura
começaram com ele a ter os dias contados.
O que o
Marquês mais lamenta, segundo várias fontes, não é que lhe esventrem o subsolo
da Praça para construir redes de túneis, ou o cerquem com rotundas concêntricas
que mais parecem os anéis de Saturno. Mas que o façam sem lhe dizerem água vai,
como se dizia no século XVIII.
O Marquês
pensa que ainda poderia apresentar ao seu País algumas propostas para o futuro:
largas avenidas, ideias arejadas. Mas há um problema de comunicação. E uma
imensa solidão no alto daquele pedestal.
Texto de João
Francisco. Foto de Paulo Navarro / Direitos reservados.
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