Quando
levantou o nevoeiro, o Marquês pôde apreciar a cidade, dois séculos depois da
reconstrução. A princípio custou-lhe distinguir o traçado da Baixa da cidade
que o arquiteto Eugénio dos Santos reconstruiu sob a sua direção. Havia
elementos novos que confundiam profundamente o desenho original e a paisagem
circundante, como fossem os edifícios muito altos, que cortavam a vista e a
própria luz do Sol, e os chamados automóveis, uma torrente movediça como lava
que escoava com dificuldade pelo traçado das ruas. Olha se o Marquês não
tivesse previsto avenidas largas? Depois foi identificando os contornos e lá
estavam, com efeito, as avenidas estruturantes, onde antes existiam os Becos da
Bofetada, da Comédia, do Espera-me Rapaz, do Urinol, o Pátio do Esnoga, a Rua do Chancudo ou a do Pocinho Entre as Hortas. “Porca miséria”, exclamara
o Marquês, como se dizia, no seu tempo, nos reinos da Sardenha, Lombardia,
Nápoles, entre outros. Sim, lá estavam as ruas Augusta, do Ouro e da Prata, as
réguas do desenho pombalino. E ao fundo da Rua Augusta, por baixo do Arco do
Triunfo, o Senhor Rei Fidelíssimo D. José
I, a cavalo. Uma estampa de estatuária. O Marquês não sabe que o medalhão de
bronze que o representa e figura na estátua nem sempre lá esteve. Nem convém
dizer-lhe.
O Marquês
revisita Lisboa, olhando a Baixa de cima do seu pedestal na rotunda com o seu
nome, e vendo o rio Tejo para lá da Lisboa reconstruída. E apesar de tudo,
gostou do que viu. Principalmente da vista para o Tejo.
Texto de João Francisco.
Fotos de Francisco João / Direitos reservados.
Sobre o Marquês veja também:
Sem comentários:
Enviar um comentário