Como é que uma
mulher trabalhadora, da classe mais baixa, se transforma em ícone de uma
cidade? Foi procurando resposta para esta pergunta que se montou a exposição
que inaugurou, em 1 de Fevereiro, o Museu de Lisboa, no palácio Pimenta, Campo
Grande. A exposição conta a história da varina de Lisboa.
O até agora
denominado Museu da Cidade passou a designar-se Museu de Lisboa, sendo composto
por cinco novos núcleos: Palácio Pimenta e Pavilhão Preto (o Pavilhão Branco
também existente nos jardins ficou de fora deste projeto e passou para tutela
direta da EGEAC); Museu do Teatro Romano; Museu Santo António; Torreão Poente,
no Terreiro do Paço, e Casa dos Bicos, este na Zona da Sé de Lisboa.
A sede do novo
Museu é no Palácio Pimenta, no Campo Grande, onde agora se pode ver a exposição
Varinas de Lisboa, com imagens e objetos que retratam um dos principais ícones
da capital, as mulheres que andavam descalças pelas ruas de Lisboa com a
canastra do peixe à cabeça.
Reluz,
viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E
num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo
com firmeza, assomam as varinas.
Vêm
sacudindo as ancas opulentas!
Seus
troncos varonis recordam-me pilastras;
E
algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os
filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças!
Nas descargas de carvão,
Desde
manhã à noite, a bordo das fragatas;
E
apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E
o peixe podre gera os focos de infecção!
Excerto de «Avés-Marias", de "Sentimento de um ocidental", de Cesário Verde;
Pintura de Almada Negreiros, Gare Marítima de Alcântara;
Desenho de João Abel Manta.
Desenho de João Abel Manta.
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