segunda-feira, novembro 26, 2012

Solidão, minha companhia


No meio da claridade
Daquele tão triste dia
Grande, grande era a cidade
E ninguém me conhecia
Pedro Homem de Mello,
Fria Claridade
Música de José Marques do Amaral, voz de Amália Rodrigues

No concelho de Lisboa há 85 mil idosos a viver sozinhos. Lisboa é mesmo uma das cidades mais envelhecidas do País: 36,6% dos agregados familiares são constituídos por pessoas com mais de 65 anos. Também há idosos lisboetas que vivem sozinhos, idosos abandonados em hospitais, esquecidos em lares de terceira idade ou, muito simplesmente, entregues à solidão nas suas próprias casas.
A solidão na velhice é uma questão difícil de encarar e muito difícil de resolver.
Em relação ao universo de 400 mil idosos que vivem sozinhos em Portugal, 85 mil no concelho de Lisboa, as estatísticas são ainda mais áridas. São números descarnados, sem corpo e também sem sentimentos. Ninguém sabe bem o que passa pelas cabeças de 85 mil velhos isolados, que pensam eles, que esperam e que querem eles ainda da vida - se é que querem, se é que esperam -, se sonham, se desesperam, se a cada passo estão à beira do derradeiro passo. Não comunicam, porque os outros deixaram de ter disponibilidade para comunicar com eles, fecham-se, porque os outros lhes fecharam todas as saídas, lhes cortaram todas as pontes.
São ilhas, são náufragos. “...Que minha solidão me sirva de companhia. // que eu tenha a coragem de me enfrentar. // que eu saiba ficar com o nada…”, escreveu Clarice Lispector.
Talvez tenham desistido de tudo, ou talvez esperem simplesmente encontrar uma improvável e derradeira amizade.

Velhos, ó meus queridos velhos,
Saltem-me para os joelhos: //
vamos brincar?
Alexandre O"Neill, Velhos de Lisboa

Texto e fotos de Beco das Barrelas / Direitos reservados.

Há um número de telefone em Lisboa para o qual qualquer munícipe pode reportar uma situação de emergência social, designadamente relativa a situações de idosos isolados: 800 204 204

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