Av. da Liberdade, prédio onde nasceu o pintor Carlos Botelho |
Tenho quarenta
janelas, // nas paredes do meu quarto, // sem vidros nem bambinelas, // posso
ver através delas, // o mundo em que me reparto (…) Oh janelas do meu quarto,//
quem vos pudesse rasgar, // com tanta janela aberta, // falta-me a luz e o ar.//
António Gedeão
Alfama |
Na janela mais
alta de Lisboa, // és a ave chamada Todavia: // a que posta no céu não se
desvia, // mas que perto do rio já não voa...
David Mourão-Ferreira
Janelas do meu
quarto, // Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é // (E
se soubessem quem é, o que saberiam?), // Dais para o mistério de uma rua cruzada
constantemente por gente, // Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
// Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, // Com o
mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, // Com a morte a pôr
humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, // Com o Destino a conduzir
a carroça de tudo pela estrada de nada.
Álvaro de Campos
Não
basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego Para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores:
há
idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada,
e todo o
mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver
se a
janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê
quando se
abre a janela.
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Alberto Caeiro
Texto e fotos Beco das Barrelas /Direitos reservados
Este post combina com a obra de Maluda.
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