terça-feira, novembro 13, 2012

Janelas: os olhos da cara da cidade



Av. da Liberdade, prédio onde nasceu
o pintor Carlos Botelho
Tenho quarenta janelas, // nas paredes do meu quarto, // sem vidros nem bambinelas, // posso ver através delas, // o mundo em que me reparto (…) Oh janelas do meu quarto,// quem vos pudesse rasgar, // com tanta janela aberta, //  falta-me a luz e o ar.//
António Gedeão
 
Alfama
Na janela mais alta de Lisboa, // és a ave chamada Todavia: // a que posta no céu não se desvia, // mas que perto do rio já não voa...
David Mourão-Ferreira

 



Cemitério dos Prazeres
Janelas do meu quarto, // Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é // (E se soubessem quem é, o que saberiam?), // Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, // Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, // Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, // Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, // Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, // Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Álvaro de Campos

 
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores:
há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada,
e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver
se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê
quando se abre a janela.
    Alberto Caeiro

Texto e fotos Beco das Barrelas /Direitos reservados

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