sábado, agosto 25, 2012

Sobre o manto diáfano da fantasia...excrementos de pombos


A estátua de Eça de Queiroz, no largo Barão de Quintela, está bem ao centro do cenário da ficção do escritor. No largo passa a Rua das Flores, onde Eça situou a Tragédia do “incesto involuntário” de Joaquina da Ega - amante do seu próprio filho. Em Os Maias são frequentes as referências ao Grémio Literário, situado na Rua Ivens, transversal da rua Garrett. Mais abaixo, no Corpo Santo, hospeda-se o primo Basílio no luxuoso Hotel Central. Houve mesmo quem confundisse a residencial Bragança, ao fundo da Rua do Alecrim, com o Hotel Braganza, na Vítor Cordon, antiga rua do Ferragial, onde Carlos da Maia se reuniu com amigos, no regresso de uma viagem pela Europa, para matar saudades de um “jantarinho à portuguesa" com "cozido, arroz de forno, grão-de-bico”. E foi ali que o escritor se reuniu diversas vezes ao jantar com os demais Vencidos da Vida.
Eça está em boa companhia, próximo da estátua de Camões e do berço de Pessoa, vizinho do poeta Chiado e de Garrett.  O autor de Viagens na Minha Terra vivia na rua do Alecrim, à esquina com o largo do Quintela, quando ouviu o relógio batendo em São Paulo a hora certa para a largada, rio acima, a caminho do Vale de Santarém.
A estátua representa Eça de Queiroz cobrindo a “nudez forte da verdade” com “o manto diáfano da fantasia”. Mas hoje, na verdade, o que cobre a escultura de Teixeira Lopes é o azotato de ácido nítrico de pombo.

Texto de João Francisco. Fotos de Francisco João (direitos reservados).

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