Quem vê navios do alto de Santa Catarina fica de costas para o Mostrengo. Conta-se que foi do alto de Santa Catarina que o general francês Junot presenciou a partida da frota levando a família real portuguesa em fuga para o Brasil, em Novembro de 1808. Mas já muito antes, os armadores portugueses aguardariam em Santa Catarina as caravelas de regresso das Índias. Também se conta que do alto da colina de Santa Catarina os sebastianistas esperariam a volta do Desejado. E a toda esta mitologia Lisboa acrescentou, em 1927, a estátua do Adamastor, o Tormentório ao qual a épica de Os Lusíadas atribuía “naufrágios e perdições de toda a sorte”. O Mostrengo, como lhe chamou Fernando Pessoa, poeta da Mensagem. O Monstro, como o designava Bocage. À escala, o marinheiro das Navegações portuguesas empoleirado na estátua é de menor dimensão que uma mão do Mostrengo.
O Adamastor, Monstro ou Mostrengo é desde há perto de um século uma estátua de pedra da autoria do escultor Júlio Vaz Júnior e já não mete medo a ninguém. Tanto assim que quem vê navios, do alto de Santa Catarina, vira desdenhosamente as costas ao gigante “imundo e grosso”, na descrição de Pessoa, de “boca negra” e “dentes amarelos”, segundo retrato de Camões.
É assim o destino dos Mostrengos.
A tempo: Adamastor foi o nome de um navio de guerra que operou na implantação da República, em 1910; é o nome de um planeta da Star Wars; é nome de um rapper português e título de um blogue.
A tempo: Adamastor foi o nome de um navio de guerra que operou na implantação da República, em 1910; é o nome de um planeta da Star Wars; é nome de um rapper português e título de um blogue.
Texto de João Francisco. Fotos de Francisco João (direitos reservados).
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