No início do
ano de 1940 o Dr. Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido na vida civil e na
literatura portuguesa por Miguel Torga, foi enclausurado pelos esbirros
salazarentos na cadeia do Aljube (aljube, vem do árabe, de aljobbe, o significa
o poço).
Torga foi
simplesmente um entre milhares de portugueses que passaram pelos curros da
sinistra cadeia vizinha da Sé. O Aljube foi depósito de presos políticos entre
1928 e 1965. Álvaro Cunhal, Mário Soares, António Borges Coelho, Francisco Miguel,
Joaquim Pinto de Andrade, Carlos Brito, Fernando Rosas, Palma Inácio foram alguns
dos presos do Aljube. Mas Miguel Torga escreveu poesia por detrás das grandes, na cadeia do Aljube, em 1940. Um dos poemas, datado de Lisboa,
Cadeia do Aljube, 1 de Fevereiro de 1940, intitula-se Claridade:
Vieram pombas e sol,
e, de mistura com Sonho,
pousou tudo num telhado...
(Eu, destas grades, a ver,
desconfiado.)
Depois,
uma rapariga loira,
(era loira)
num mirante
estendeu roupa num cordel:
que se via
que era de gente lavada,
e só por isso aquecia...
E não foi preciso mais:
Logo a alma
clareou por sua vez.
Logo o coração parado
bateu a grande pancada
da vida com sol e pombas
e roupa branca, lavada.
Miguel
Torga, Lisboa, Cadeia do Aljube, 1 de Fevereiro de 1940
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