Português,
lisboeta, arquiteto paisagista, 90 anos de idade, Gonçalo Ribeiro Teles recebeu
o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, considerado o Nobel da Arquitetura Paisagista.
O Prémio foi atribuído pela Federação Internacional dos Arquitetos Paisagistas.
Segundo a Associação Portuguesa do setor, o Prémio Geoffrey Jellicoe reconhece
e consagra “a obra e as contribuições ao longo da vida que tenham tido um
impacto incomparável e duradoiro no bem-estar da sociedade e do ambiente e na
promoção da profissão de Arquitetura Paisagista".
São da autoria de Ribeiro Telles, entre outros projetos, o
Corredor Verde de Monsanto e a integração da zona ribeirinha oriental e
ocidental, na Estrutura Verde Principal de Lisboa. Gonçalo Ribeiro Telles
também é autor dos jardins da sede da Fundação Calouste Gulbenkian, que assinou
com António Viana Barreto, e dos projetos do Vale de Alcântara e da Radial de
Benfica, do Vale de Chelas, e do Parque Periférico, entre outros.
Também trabalhou no “Plano Verde” de Lisboa, procurando recuperar
as “ilhas de verdura da cidade”, como disse em tempos, em entrevista ao autor
deste texto. A questão é que a reabilitação da cidade, como da periferia, está
condicionada por décadas de loteamentos e construção.
“Não houve o cuidado que planear a estrutura ecológica e agora
resta-nos recuperar”, disse, acrescentando que ainda hoje a generalidade dos
governantes tem “uma consciência ecológica ultrapassada” e a grande maioria dos
municípios rege-se por “ideias do século XIX”. Os logradouros, azinhagas,
hortas e quintais deram lugar a habitações clandestinas, a caves, arrecadações,
oficinas e espaços de estacionamento, a loteamentos de betão. Lisboa também perdeu
qualidade. A altura dos prédios roubou luz à cidade, aumentando as correntes de
vento e a poluição.
E não só, acrescentava o arquitecto. “Na Europa, a nova
construção para habitação não excede três a quatro pisos”, pois está provado
que as torres de betão são um factor directamente proporcional “ao crescimento
da marginalidade, da criminalidade e do vandalismo”. Mas ultrapassar o
urbanismo convencional é um combate desigual. Do outro lado, dizia o arquiteto
Ribeiro Teles, estão “a rotina dos técnicos, os interesses dos investidores e o
facto de as obras não serem visíveis nem inauguráveis”.
Autor dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, entre muitas
outras obras de Lisboa, Gonçalo Ribeiro Teles cita com frequência, em latim, o
que parece ser a sua divisa - “urbe et ager”, cidade e campo – e o seu sonho:
levar a cidade ao campo, trazer o campo à cidade.
Na sua opinião, a par dos
espaços públicos, os quintais e logradouros privados da antiga Lisboa, para além
da valorização estética da cidade, teriam ainda hoje uma função insubstituível “para
a circulação da água, a amenidade do clima, o combate à poluição”.
Texto e Fotos Beco das Barrelas / D.R.
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