O Fado, que é
Património da Humanidade e que tem capital em Lisboa, também vai cedendo a
algum desgaste dos tempos e às contingências da crise. Quem desça a Rua de São
Lázaro vai dar por falta da letragem de
Os Ferreiras sobre as portas dos números 150 / 152. Foi mais um restaurante
com fados, onde se juntavam profissionais e amadores com a causa amada, que
fechou as portas.
É a vida e o
Fado não é nem mais nem menos que isso mesmo. Fecham umas casas, abrem outras, e
ninguém consegue fazer com rigor um balanço de ganhos e perdas no património
material do Património Imaterial da Humanidade que é o Fado e que é Lisboa.
Entre muitas
outras - e o critério é como todos os critérios subjetivo - há duas casas que
mesmo que tenham desaparecido fisicamente não desparecem da memória coletiva da
canção urbana de Lisboa. Falamos de A
Cesária e do Solar da Madragoa.
A casa A Cesária (século XIX - 1988) não foi
apenas um santuário fadista onde cantou, ou terá cantado, a cantadeira Maria
Cesária. Nem sequer foi apenas, como bem assinala Vítor Marceneiro no blogue “Lisboa no Guiness”, “uma casa de ‘prostituição’", que “funcionava com o nome de Bar Sábá”, na
antiga Rua Velha depois Rua Gilberto Rola, em Alcântara. Foi também, nos anos
50 e 60 do século passado, um grande e popular centro de difusão da canção de
Lisboa, que ensinou muita gente nova de então a saber ouvir e a respeitar o
fado.
O mesmo pode
dizer-se do Solar da Madragoa, com
porta aberta na Rua das Trinas, desde o final dos anos 50 até perto do final do
século XX.
Tinham em
comum o facto de ficarem à margem do roteiro turístico que desembarca carregamentos
de turistas que ouvem o fado com acompanhamento de garfo e faca e saem porta
fora como o fado que lhes entra por um ouvido e sai por outro.
A Cesária era frequentada por fadistas, que ali
cantavam por amor ao Fado. O Solar da
Madragoa tinha duas vozes inesquecíveis no elenco: Ilda Silva e César
Morgado.
Desse passado,
não muito longínquo, resta a memória que consta de uma placa no número 20 da
Rua Gilberto Rola, em Alcântara, e um pregão de venda ou arrendamento no número
67 da Rua das Trinas.
E tudo isto é
Fado. Com memória que é algo mais que a saudade.
Texto e fotos
Beco das Barrelas / D.R.
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