quarta-feira, abril 10, 2013

Fado passado


O Fado, que é Património da Humanidade e que tem capital em Lisboa, também vai cedendo a algum desgaste dos tempos e às contingências da crise. Quem desça a Rua de São Lázaro vai dar por falta da letragem de Os Ferreiras sobre as portas dos números 150 / 152. Foi mais um restaurante com fados, onde se juntavam profissionais e amadores com a causa amada, que fechou as portas.
É a vida e o Fado não é nem mais nem menos que isso mesmo. Fecham umas casas, abrem outras, e ninguém consegue fazer com rigor um balanço de ganhos e perdas no património material do Património Imaterial da Humanidade que é o Fado e que é Lisboa.
Entre muitas outras - e o critério é como todos os critérios subjetivo - há duas casas que mesmo que tenham desaparecido fisicamente não desparecem da memória coletiva da canção urbana de Lisboa. Falamos de A Cesária e do Solar da Madragoa.
 
A casa A Cesária (século XIX - 1988) não foi apenas um santuário fadista onde cantou, ou terá cantado, a cantadeira Maria Cesária. Nem sequer foi apenas, como bem assinala Vítor Marceneiro no blogue “Lisboa no Guiness”, “uma casa de ‘prostituição’", que “funcionava com o nome de Bar Sábá”, na antiga Rua Velha depois Rua Gilberto Rola, em Alcântara. Foi também, nos anos 50 e 60 do século passado, um grande e popular centro de difusão da canção de Lisboa, que ensinou muita gente nova de então a saber ouvir e a respeitar o fado.
O mesmo pode dizer-se do Solar da Madragoa, com porta aberta na Rua das Trinas, desde o final dos anos 50 até perto do final do século XX.
Tinham em comum o facto de ficarem à margem do roteiro turístico que desembarca carregamentos de turistas que ouvem o fado com acompanhamento de garfo e faca e saem porta fora como o fado que lhes entra por um ouvido e sai por outro.
A Cesária era frequentada por fadistas, que ali cantavam por amor ao Fado. O Solar da Madragoa tinha duas vozes inesquecíveis no elenco: Ilda Silva e César Morgado.
 
Desse passado, não muito longínquo, resta a memória que consta de uma placa no número 20 da Rua Gilberto Rola, em Alcântara, e um pregão de venda ou arrendamento no número 67 da Rua das Trinas.
E tudo isto é Fado. Com memória que é algo mais que a saudade.
 
Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.
 

 

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