segunda-feira, abril 25, 2016

Quando caiu o Carmo: Lisboa no centro da revolução


“Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal”
Manuel Alegre

23h 55m de 24 de Abril de 1974 - João Paulo Dinis anuncia nos Emissores Associados de Lisboa: “Faltam 5 minutos para as 23 horas” e pôs a rodar a canção “E depois do adeus”, por Paulo de Carvalho.
00h 20m de 25 de 25 de Abril - A canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, passa no programa Limite, da Rádio Renascença, com a primeira estrofe gravada por Leite de Vasconcelos.
04h 20m de 25 de Abril - Joaquim Furtado lê no Rádio Clube Português o primeiro dos comunicados do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.


05h 30m - Forças da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém, comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, instalam-se no Terreiro do Paço, onde se localizavam os Ministérios militares do Governo, Marinha e Exército. O ministro do Exército foge do Ministério, por um buraco aberto na parede.

8h 10m - Um força de carros de combate do Regimento de Cavalaria 7 e de jeeps da GNR, sob o comando do brigadeiro Junqueira do Reis, aproxima-se do Terreiro do Paço pela Rua do Arsenal para enfrentar as tropas revoltosas. 

O capitão Salgueiro Maia e o tenente Correia da Assunção parlamentam com o brigadeiro. O brigadeiro dá voz de fogo ao cabo apontador do primeiro carro de combate. “Dispare sobre aquele homem”. Salgueiro Maia: “E o cabo não disparou. E quando um brigadeiro dá esta ordem a um cabo e ele não dispara, aí fez-se o 25 de Abril”.













12 horas - As forças que ocupavam o Terreiro do Paço subdividem-se. Uma coluna dirige-se para a Penha de França, para obter a rendição da Legião Portuguesa. A coluna do capitão Salgueiro Maia segue pelo Rossio para o Largo do Carmo, em cujo quartel da GNR se refugiara o chefe do Governo. Milhares de civis seguem esta coluna, em cima dos carros de combate ou a pé. No Rossio, a partir das bancas de venda de flores ali instaladas, há uma primeira distribuição de cravos pelos soldados.

"A Salgueiro Maia, lembrando o 25 de Abril de 1974,
homenagem da cidade de Lisboa.
CML 1992", no chão do Largo do Carmo.


12h 30m - O Quartel da GNR no Largo do Carmo é cercado por forças da Escola Prática de Cavalaria, reforçadas por unidades que tinham aderido ao longo da manhã ao Movimento. Após várias horas de impasse, de tentativas de negociação e de disparo de rajadas sobre a frontaria do edifício, o quartel do Carmo rende-se pelas 17 horas.
O capitão Salgueiro Maia entra no quartel e obtém a rendição de Marcelo Caetano, que reclama a presença de um oficial general a quem transmita o poder. Entra em cena o general Spínola. Marcelo Caetano, acompanhado pelos ex-ministros Moreira Batista e Rui Patrício, abandona o Carmo na viatura blindada denominada “Bula”, pelas 19h 20m.

"Aqui, na tarde de 25 de Abril
de 1974 a PIDE abriu fogo sobre
o povo de Lisboa e matou:
Fernando C. Gesteira
José J. Barneto
Fernando Barreiros dos Reis
José Guilherme R. Arruda
Homenagem de um grupo de cidadãos
25-4-1980",
na fachada da antiga sede da PIDE,
R. António Maria Cardoso,
 hoje um condomínio de luxo.










21 horas - Depois de primeiros 
incidentes junto à sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, pelas 13 horas, dos quais resultaram 5 feridos, registam-se novos incidentes no local, pelas 21 horas. Agentes da PIDE/DGS disparam da varanda do primeiro andar da sede sobre a multidão que exigia a rendição da polícia política, causando dezenas de feridos e quatro mortos. Foi o único sangue que correu no dia da triunfante Revolução dos Cravos. A PIDE/DGS rendeu-se na manhã seguinte.


“Esta é a madrugada que eu esperava
 o dia inicial inteiro e limpo
 Onde emergimos da noite e do silêncio
 E livres habitamos a substância do tempo”
Sophia de Mello Breyner

Naqueles dias - ... como em 1383... ou 1640... - Lisboa esteve no centro da revolução. 
Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

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