Um chauffeur de táxi da Lisboa dos anos 20,
conhecido como Juca, o Menjou da
Estefânia (Menjou dada a parecença do bigodinho com o do actor Adolphe Menjou,
americano de Pittsburgh, filho de pai francês), projectou as suas peripécias
para o bloco-notas do Senhor X, Reinaldo Ferreira, o Repórter X, designação de um magazine que o autor publicou.
E ali ficaram
e permanecem nas Memórias, a cidade,
a sua geometria, a superfície e o submundo, algumas das suas figuras, reais ou
imaginadas pela criatividade fulgurante do Repórter X.
Em Lisboa, há
perto de um século, uma boa história poderia ficar ao Repórter, com a
bandeirada a um escudo e meio, por 30 escudos em viagens de táxi. A cidade não
tinha a extensão que tem hoje. As memórias do taxista cabem entre a Baixa e o
Jardim Zoológico, em Palhavã, a Estefânia, Pascoal de Melo, Almirante Reis e a Graça, ou Santa Marta, Gomes Freire e Jardim de Santana, Campo Grande para Norte, Alcântara e Dafundo para Ocidente e daí até Algés ou
aos Estoris.
O Repórter X |
Algumas personagens apresentadas ao Repórter X pelo Menjou da Estefânia: a dama escamoteada, o cão-camaleão, o meio-homem, a azagaia humana, o legionário bera, a mais célebre jejuadora do mundo, o Lorde gatuno, a Rainha do roubo, o pirata japonês, o carteirista Fresquinho, etc, etc.
Joel Lima, a
maior autoridade em matéria de Repórter X, diz no prefácio da edição das Memórias de um Chauffeur de Táxi editadas pela Colecção Vampiro em 2007, que estas histórias começaram a ser
publicadas pelo Repórter X no ABC nº
508, de 10 de Abril de 1930, comportaram 27 partes e seis episódios completos.
O sétimo começou a sair no nº 551 do ABC,
de 5 de Março de 1931.
Reinaldo Ferreira,filho, o poeta |
O filho do
meio, Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, nascido a 20.03.1922, em
Barcelona, e falecido a 30.06.1959, em Lourenço Marques, é um grande poeta da
língua portuguesa. A obra poética de Reinaldo Ferreira – na qual José Régio encontrou «ressonâncias de Antero e Fernando Pessoa» - foi publicada postumamente. O epitáfio
do poeta é um poema de sua autoria:
Mínimo sou,
Mínimo sou,
Mas
quando ao Nada empresto
A
minha elementar realidade,
O
Nada é só o resto.
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