«Da
janela do meu quarto via uma praça e o perfil da estátua
de um rei a cavalo que enfaticamente apontava para o Sul.»
António Muñoz Molina,
O Inverno em Lisboa
O Inverno em Lisboa
Quetzal, 1991
Jean-Pierre Castellani, da Universidade
de Tours, tem um estudo sobre a novela de Muñoz Molina,
associada ao filme realizado a partir do mesmo texto, um e outro com Lisboa
como referência.
A novela desenrola-se em três cidades, San Sebastian, Madrid e
Lisboa e Castellani diz que «todas as cidades» - as da novela e não só - «estão
simbolizadas e sintetizadas em Lisboa». É a cidade do destino, a cidade que se
procura, a âncora que vai manter-se pela vida fora, tal como o par de Casablanca tinha sempre para si a
referência de Paris.
Na novela de Muñoz Molina, Lisboa é uma
cidade mítica do restrito circuito que compreende Veneza, Istambul ou Nova
Iorque. O Inverno em Lisboa coloca a capital portuguesa no centro de uma
geografia de encontros e desencontros, de presenças e de ausências, tanto de
pessoas como das próprias cidades.
A trama de O Inverno em Lisboa conta uma história a três, o pianista de jazz
Santiago Biralbo, o traficante de arte Bruce Malcom e a mulher deste, Lucrécia.
E conta também os encontros e desencontros com cidade que fazem parte do
enredo, não são meros cenários. Há um narrador não identificado que fala com
Biralbo e comunica com o leitor. E há Lisboa.
«Desde
que Biralbo a conhecera, Lucrécia tinha vivo no desassossego e na suspeita de que
a sua verdadeira vida estava à espera dela noutra cidade e entre pessoas desconhecidas
(…) Durante anos teria dado tudo para viver em Praga, em Nova Iorque, em Berlim,
em Viena. Agora o nome era Lisboa».
«Tinha
imaginado uma cidade tão enevoada como San Sebastian ou Paris.
E Lisboa vai surpreendendo
as personagens da novela de encontros e desencontros, com as suas ruas empinadas, os ascensores e elevadores que sobem e descem da Baixa para a Alta. E com a sua luz e cor, predicados ímpares de Lisboa.
«Ficou
surpreendido com a transparência do ar, a exactidão do cor-de-rosa nas fachadas
das casas, a uniforme cor avermelhada dos telhados, a estática luz dourada que
perdurava nas colinas da cidade com um esplendor de chuva recente.»
Texto de João e Fotos de Francisco
Beco das Barrelas
Beco das Barrelas
Sem comentários:
Enviar um comentário