A mais recente realização de António Pedro Vasconcelos,
Os Gatos não têm Vertigens, é um filme português sobre o nosso tempo, sobre
as relações humanas, sobre a amizade e a solidariedade, sobre a devastação e
pilhagem neoliberal e é também um belo filme sobre Lisboa.
Com Maria do Céu Guerra (Rosa), João Jesus (Jó),
Nicolau Breyner (Joaquim), o filme conta a história de solidão de uma viúva
recente (Rosa), que perdeu o marido (Joaquim) mas encontra um improvável amigo
(Jó). Jó está a fazer 18 anos, vive numa zona “problemática”, uma existência
“problemática”, tem amigos “problemáticos”, um pai “problemático” que o
maltrata, explora e que o expulsa de casa no dia do aniversário. As voltas da
vida levam o jovem Jó a refugiar-se no terraço da casa de Rosa. Ele reconhece
que está no inferno mas tem a melhor vista do mundo. E o resto não conto. Vejam
o filme.
A acção começa no grande salão de baile do Mercado da Ribeira e todo o filme se desenvolve em Lisboa. A casa de Rosa e o terraço ficam na encosta do
Castelo de S. Jorge - mais rigorosamente na esquina da rua da Costa do Castelo com a calçada do Conde de Penafiel -, e a vista é de facto das melhores do mundo; no rés-do-chão
do prédio onde vive, Rosa tem como vizinha a atriz Adelaide João. No interior
do Castelo fica a mercearia (a patroa é a atriz Mariema); grande parte da ação
passa-se na zona do Castelo, com o elétrico 28 às voltas ali perto. O pai
de Jó vive do outro lado da cidade, perto de Alcântara, sobre o final da
Avenida de Ceuta, entre a Quinta do Cabrinha e a Rua da Cascalheira, e dali a
vista dá para o lado das Necessidades. Para as suas atividades e ligações com
os parceiros “problemáticos”, Jó desloca-se para o Cais de Sodré, onde frequenta
um café mesmo sobre o rio.
Lisboa não é apenas cenário: é também protagonista
no filme de APV. Outro protagonista é o Sport Lisboa e Benfica, transversal
entre “bons” e “maus”, “problemáticos” ou não.
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