Há 100 anos, das
oficinas da Tipografia do Comércio, na Rua da Oliveira ao Carmo, nº 10, no
local onde até há poucos anos funcionou a redação do Diário Económico, em
frente do restaurante Alcobaça, saiu o nº 1 da Orpheu, Revista Trimestral de
Literatura, editada por António Ferro, dirigida por Luiz de Montalvôr e Ronald
de Carvalho.
A capa de José
Pacheco ainda hoje se reconhece à distância de um século: anunciava a afirmação
das vanguardas modernistas em Portugal. O jornal A Capital chamou-lhe “literatura
de manicómio”.
Colaboravam
no 1º número da revista Orpheu Luís de Montalvor, Mário de Sá-Carneiro –
Indícios de ouro –, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa – O Marinheiro (drama)
-, José de Almada-Negreiros – frisos (prosa) -, Côrtes-Rodrigues, Álvaro de
Campos – Opiário e Ode Triunfal:
… Ó rodas, ó
engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo
retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora
e dentro de mim,
Por todos os
meus nervos dissecados fora,
Por todas as
papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os
lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir
demasiadamente de perto,
E arde-me a
cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão
de todas as minhas sensações,
Com um
excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!...
Fundação
Gulbenkian – Congresso Internacional do Centenário do Orpheu;
Biblioteca
Nacional - exposição “Os
caminhos de Orpheu”;
Biblioteca-Museu
República e Resistência, quarta-feira, dia 25, Conferência “Orpheu – 100 anos
depois, A grande mudança na literatura, por António Valdemar, jornalista,
investigador e membro da Academia das Ciências.
Casa Fernando
Pessoa - programa com artes plásticas, performances e leituras;
CCB – Sábado,
28 de Março, conferência pelo ensaísta Eduardo
Lourenço.
«Estavam lá todos», na Cervejaria Jansen: Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Santa Rita Pintor, Mário de Sá Carneiro, «Jorge Barradas, o “Barradinhas”, elegância cinematográfica», «o Stuart, o terno estilizador da garotada, dos “Quins” e dos “Manecas”», «o José Pacheco, parisiense, bar-gluch, magro, enluvado, arlequim dos grandes projectos do ópio, vestido pelas modas da alfaiataria que ainda não chegou a Portugal». E rematava: «Estavam lá todos».
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