Hoje,
o jornal A Bola – na Travessa da Queimada - é o derradeiro jornal em papel residente no Bairro Alto. Mas já houve tempo em que redação que se prezasse era
no Bairro Alto que se instalava ou hospedava. O matutino O Século, com marcação
à zona de delegações de jornais do Porto e de matutinos malditos que saiam sucessivamente
em Lisboa – o Diário da Manha de outras Épocas – e depois todos os
vespertinos – Lisboa, Capital, República, Popular – tudo era redigido e
produzido no Bairro e suas imediações. Só na Rua Luz Soriano moravam o Diário
de Lisboa e o Diário Popular. O próprio Diário de Notícias nasceu no Bairro Alto.
Por
tabela, no Bairro Alto localizava-se o grosso dos restaurantes, bares e tascas
para o pessoal das redações. E como os jornais fechavam tarde, as tascas e restaurantes
acompanhavam as horas de fecho.
Mesmo
à mão ficava a Censura, no 125 da Rua da Misericórdia – antiga Rua do Mundo, nome
de jornal -, com serventia para entrega e recolha de provas pela porta da Rua das
Gáveas.
Até
que um dia fechou o Século, depois a República. Mais tarde fechou o Popular e em
seguida o Diário de Lisboa, na mesma rua. A delegação do JN saiu então da Rua da Misericórdia
para o edifício do Diário de Notícias, na Rotunda do Marquês de Pombal. A Capital que já se
tinha mudado, ainda voltou ao Bairro e depois fechou de vez. Ficaram alguns
nomes na toponímia do Bairro.
Jornais fecharam, jornais
deslocalizaram-se para os arredores, onde as rendas são mais baixas. Mas agora,
poucos distinguem uma notícia escrita ao telefone e o trabalho de um repórter:
«Repórter é o que vai ali, vem já, olhar
rápido, palavra célere», na definição de Armando Baptista-Bastos, grande
jornalista recentemente posto fora da lista de colaboradores no DN.
Agora só se fala do tempo dos jornais no
Bairro Alto na sala de espera do posto de saúde da Casa da Imprensa, ali ao pé,
na Rua da Horta Seca.
Não
é saudosismo. Mas alguma coisa se perdeu no tempo.
Texto e fotos Beco das Barrelas/D.R.
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