Neste tempo de indiferentismo, de
apatia, do espectáculo, cinco pessoas mantêm aquilo aberto. Então isto não é
bonito?
Vítor Silva Tavares, editor, coautor do
“Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa
no centenário da Livraria Sá da Costa”
Cinco livreiros,
trabalhadores da Sá da Costa - Noémia
Batalha, Susana Pires, Pedro Oliveira, Salomé Gonçalves e António Esteves -, aguentaram o último fôlego
da Livraria fustigada pela “ditadura financeira”, pela barbárie, e pelos
interesses da especulação.
A Livraria tem 100 anos: foi
fundada em 1913 no atual largo Dr. António de Sousa Macedo, ao Poço dos Negros.
Em 10 de Junho de 1943 mudou-se para a Rua Garrett, onde foi classificada no
PDM de Lisboa como um dos “bens imóveis de interesse municipal”. De nada lhe
serviu: foi penhorada pelas Finanças com as respetivas licença, alvará, direito
ao arrendamento e trespasse "e todos os armários/prateleiras, existentes
em todas as paredes do rés-do-chão do estabelecimento e que cobrem as mesmas em
toda a sua extensão"; foi posta à venda pelo Tribunal; o plano de
viabilização da Sá da Costa foi chumbado pela assembleia de credores; a
Livraria foi declarada insolvente e foi ordenada a liquidação total da Sá da
Costa.
O Manifesto diz que aquela
esquina da Rua Garrett com a Serpa Pinto é um “lugar cobiçado demais, pelos
negócios do dinheiro graúdo”. Os livreiros chamam a atenção para a “destruição
dos espaços culturais emblemáticos, por fatal ‘mudança de ramo’, vítimas da
especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada ‘natural’ das
lojas e luxo, [que] encerram portas num abrir-e-fechar de olhos”.
Nos últimos tempos fecharam em
Lisboa as livrarias Portugal, Guimarães, Barateira,
Petrony, Bocage, Camões e Biblarte. E a Livraria Poesia Incompleta - a única
livraria de Lisboa exclusivamente dedicada à poesia - mudou-se para o Rio de
Janeiro.
Outras casas como a Lello, a
Olisipo e a Artes e Letras correm o risco de fechar. De acordo com o Instituto
Nacional de Estatística, entre 2007 e 2011 desapareceram mais de 100 livrarias
em Portugal e em 2012 a tendência negativa agravou-se.
No manifesto, os livreiros
afirmam que o fecho da Sá da Costa é um “sinal dos tempos – bem paradigmáticos
desta apagada e vil tristeza em que o país, e nós com ele, nos encontramos
mergulhados – a zona do Chiado, a sua histórica envolvência, tem sido palco de
uma razia, de devastação”.
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Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.
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