sexta-feira, setembro 21, 2012

Burras assadas é no Beco dos Surradores

Nova imagem, agora com reclamo à porta
Almocei no Zé dos Cornos e as burras estavam macias como uma almofada - ou como "a bochecha de um gatinho", como diria Ernest Hemingway - mas consistentes como qualquer carne que se preza. As mesas são corridas e a meu lado duas turistas chinesas pediram os meus bons ofícios para encomendar um prato de peixe e outro de carne. Aproveitei a primeira oportunidade para lhes perguntar como é que se chega de Xangai ao nº 5 do Beco dos Surradores, no Poço do Borratém, a uma casa de comidas sem nome na fachada, e elas responderam exibindo um guia turístico chinês onde o Zé dos Cornos vem recomendado. Portanto, a fama da tasca do Beco dos Surradores chegou muito além da Taprobana.
As burras são as bochechas do porco e vinham assadas no forno, acompanhadas de batatinhas igualmente assadas e de arroz igualmente do forno. Uma delícia que se desfazia na boca, com um sabor retificado pelos temperos e pela assadura. Naquele dia, poderia ter optado pela dourada grelhada ou pelo polvo à lagareiro, pelos secretos ou, se me sentisse com embocadura para tanto, pela mão de vaca com grão. Mas não me arrependi de ter escolhido as burras.
O Zé dos Cornos, ou Zé Carvoeiro como se lê para lá do balcão, é uma tasca de Lisboa, com tudo o que isso tem de mau - acanhada, barulhenta - e de bom - excelente comida a bom preço e ambiente informal. Está aberta todos os dias, exceto domingos, para almoço e jantar (embora feche cedo). E tem uma mais-valia altamente considerável: os patrões são de Ponte de Lima, referência na arte de bem comer em Portugal. 

Falta referir a origem do nome da tasca: Zé dos Cornos. Quanto José Ferreira tomou a pequena casa do Beco dos Surradores - carvoaria e vinhos - decorou-a simplesmente com a cabeça de um boi. Sem nome próprio, a taberna ficou a ser conhecida nas redondezas por A dos Cornos, enquanto outros lhe chamavam A do Zé. Até que o o dono da casa juntou ambas as designações. Ficou Zé dos Cornos e é assim que é conhecida nas imediações e até na China. 
Recentemente passou a ter reclamo com cornos à porta.
Foto do blogue Beco das Barrelas / Direitos reservados

5 comentários:

  1. Boa disposiçao, saudades de Lisboa e apetite aberto. Foi como eu fiquei após ler mais este post.

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  2. Já me abriste o apetite... :)
    Burras, conheço bem as da Adega do Isaías, em Estremoz, acompanhadas de uma migas de espargos verdes do campo. Um requinte, para os paladares mais exigentes. Ah, e sem esquecer o o tinto da casa, servido num jarro de barro, de Estremoz, claro :)
    O Isaías não sei se é conhecido na China, mas lá que merecia, merecia !
    Luís M Vasconcelos

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  3. Para além da batatinha e do arrozinho fariam falta uns grelos. Marchava já.

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  4. do que te foste lembrar... adoro burras!... já marchava

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  5. Para mim o Zé do Borratém, onde nos finais dos anos 70 princípio de oitenta se bebia, para nós minhotos, vinho morango. Aquilo era uma tigelada de saudades da fresca latada e do cheiro da uva, mas também um outro pequeno manifesto, que não o da circulação de vinho, mas sim à ida recente da proibição salazarenta de comercialização do mesmo.
    JAC

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