A carreira 28
dos amarelos da Carris desce dos Prazeres ao Poço dos Negros, depois começa a
subir para o Chiado. Volta a descer até à baixa. E depois lá vai ele subindo,
subindo sempre até à Graça. E então começa a descer até que desliza pela Rua da
Palma para o Martim Moniz. Sem sobressaltos, o percurso demora 37 minutos. Mas
é difícil que os sobressaltos não surjam num percurso tão acidentado.
Tínhamos
iniciado a subida para o Chiado, pela Calçada do Combro até ao Calhariz, e
depois desfilado pelo Camões e o Chiado. O percurso segue pelo sopé do Bairro
Alto, a colina da movida e do desassossego. No Chiado, Lisboa anima-se à luz do
dia pelo turismo e o consumo.
A rua António
Maria Cardoso, de sinistra memória, é o derradeiro troço pleno antes da grande
descida pelo declive da calçada de
S. Francisco até à baixa, que o 28 atravessa pela Rua da Conceição, cruzando as ruas
do Ouro, Augusta, da Prata, até à Rua da Madalena.
E então começa
a grande subida, que tem a primeira contagem do Prémio da Montanha na Sé de
Lisboa. À esquerda o Aljube, outra tristíssima memória deste trajeto, mais à
frente o antigo Limoeiro. O poeta sueco Tomas Tranströmer, Nobel da Literatura (em 2011),
escreveu em 1966 sobre as duas cadeias, o Limoeiro, dos ladrões, e o Aljube, dos
políticos: “Vi a fachada, a fachada, a fachada…”.
Depois é a
subida gloriosa, de miradouro em miradouro, de Santa Luzia às Portas do Sol,
com o Castelo ao lado, Alfama aos pés e o Tejo ao fundo.
Pode seguir. E
segue amanhã…
Texto de João
Francisco. Fotos de Francisco João (direitos reservados)
O meu eléctrico, durante dois anos, desde os Prazeres até à Graça. Dia após dia, após o último toque de saída da Escola Preparatória Manuel da Maia, lá ia eu, de 28, até casa da avó. O percurso parecia durar muito mais do que os 37'. Valia por ser uma viagem lindíssima, da qual eu disfrutei, dia após dia.
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