quinta-feira, setembro 06, 2012

Um elétrico chamado Sobe e Desce

A carreira 28 dos amarelos da Carris desce dos Prazeres ao Poço dos Negros, depois começa a subir para o Chiado. Volta a descer até à baixa. E depois lá vai ele subindo, subindo sempre até à Graça. E então começa a descer até que desliza pela Rua da Palma para o Martim Moniz. Sem sobressaltos, o percurso demora 37 minutos. Mas é difícil que os sobressaltos não surjam num percurso tão acidentado.

Tínhamos iniciado a subida para o Chiado, pela Calçada do Combro até ao Calhariz, e depois desfilado pelo Camões e o Chiado. O percurso segue pelo sopé do Bairro Alto, a colina da movida e do desassossego. No Chiado, Lisboa anima-se à luz do dia pelo turismo e o consumo.
A rua António Maria Cardoso, de sinistra memória, é o derradeiro troço pleno antes da grande descida pelo declive da calçada de S. Francisco até à baixa, que o 28 atravessa pela Rua da Conceição, cruzando as ruas do Ouro, Augusta, da Prata, até à Rua da Madalena.

E então começa a grande subida, que tem a primeira contagem do Prémio da Montanha na Sé de Lisboa. À esquerda o Aljube, outra tristíssima memória deste trajeto, mais à frente o antigo Limoeiro. O poeta sueco Tomas Tranströmer, Nobel da Literatura (em 2011), escreveu em 1966 sobre as duas cadeias, o Limoeiro, dos ladrões, e o Aljube, dos políticos: “Vi a fachada, a fachada, a fachada…”.
Depois é a subida gloriosa, de miradouro em miradouro, de Santa Luzia às Portas do Sol, com o Castelo ao lado, Alfama aos pés e o Tejo ao fundo.

Pode seguir. E segue amanhã…
 
Texto de João Francisco. Fotos de Francisco João (direitos reservados)

1 comentário:

  1. O meu eléctrico, durante dois anos, desde os Prazeres até à Graça. Dia após dia, após o último toque de saída da Escola Preparatória Manuel da Maia, lá ia eu, de 28, até casa da avó. O percurso parecia durar muito mais do que os 37'. Valia por ser uma viagem lindíssima, da qual eu disfrutei, dia após dia.

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