quinta-feira, julho 26, 2012

Descendo do Castelo, a Saudade...


António Tabucchi descobriu certo dia, entre o Castelo e a Sé, “dois símbolos da cidade”, uma rua à qual não ia qualquer visitante ocasional. Só alguém como ele próprio, que não se guiava por roteiros turísticos, mas pelo guia do coração, pessoal e pouco turístico. E foi assim que Tabucchi, descendo da porta do Castelo, deu com a Rua da Saudade e escreveu um texto que incluiu no volume Viaggi e altri viaggi.

 “Para entender o que é saudade, nada melhor do que senti-la diretamente. O melhor momento é, sem dúvida, o pôr-do-sol, que é a hora canónica da saudade, mas também em certas noites de nevoeiro atlântico, quando sobre a cidade desce um véu e se acendem os candeeiros. Ali, sozinhos, com esse panorama diante de vocês, talvez sintam uma espécie de perturbação. A imaginação fará com que pensem, no regresso a vossas suas casas e aos vossos hábitos, na nostalgia de um momento privilegiado das vossas vidas, quando estavam numa lindíssima e solitária ruela de Lisboa, olhando para um panorama perturbador. Sim, o jogo começou: estão sentindo nostalgia do momento que vocês estão vivendo neste momento. É uma nostalgia do futuro. Experimentam, assim, pessoalmente, a saudade.”
O escritor Antonio Tabucchi nasceu italiano e morreu português por amor a Portugal e em particular a Lisboa.
O escritor Antonio Tabucchi localizou na Rua da Saudade, 22, 2º andar, a residência do Doutor Pereira, protagonista de Afirma Pereira. 

Post Scriptum: no nº 23 da Rua da Saudade viveu e morreu, aos 47 anos de idade, o poeta José Carlos Ary dos Santos, "poeta de Lisboa e do seu povo, de Portugal e de Abril". À data da morte tinha em preparação um livro autobiográfico intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade. O seu nome foi dado a um largo de Alfama.
Foi um poeta e um homem único. J.F.
Fotos de Francisco João (d.r.). Texto de João Francisco.

4 comentários:

  1. Na Rua da Saudade, mais precisamente no n. 23, viveu José Carlos Ary dos Santos.

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    1. Com efeito, no nº 23 da Rua da Saudade viveu e morreu, aos 47 anos de idade, o poeta José Carlos Ary dos Santos, "poeta de Lisboa e do seu povo, de Portugal e de Abril". À data da morte tinha em preparação um livro autobiográfico intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade. O seu nome foi dado a um largo de Alfama. Foi um poeta e um homem único.
      J.F.

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  2. o que antonio tabucchi fala de sentiu no lugar foi uma mistura de varios sentimentos, fragmentos de memórias num cenário visual lisboeta no tempo presente. Todos os homens e mulheres sentem saudades, independentemente da nacionalidade ou cultura. as designações para o sentimento estado são portanto muitissimas, algumas igualmente belissimas. o inglês p ex to miss, uma mistura de perder e sentir a falta de alguem ou algo.
    bonito texto o de tabucchi, sem duvida. em agradecimento e reciporocidade direi ah que saudades de roma, do jardim das laranjeiras no aventino e de lá estar sentado a pensar olhando a cidade e o rio abaixo e ao longe.

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  3. o livro de memórias de ary dos santos referido por um comentador nunca foi publicado, pelos vistos, estará na sua arca.

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