(…) Nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu sei já bem (…)
* Eugénio de Andrade, Em Lisboa com Cesário Verde
Cesário Verde
nasceu em Lisboa, em 25 de Fevereiro de 1855, na Rua da Padaria, ao lado do Arco Escuro, e viveu, sucessivamente, na Rua dos Fanqueiros, no Salitre, nas Trinas do Mocambo, à Lapa, no Largo de São Sebastião.
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Cesário Verde, Num bairro moderno
A alternativa
a Lisboa, ao tempo fustigada por sucessivas epidemias, eram as “eiras, prados e
lezírias” da quinta de Linda-a-Pastora.
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Cesário Verde, De tarde
Prestou exames
da instrução primária em 1865, na Academia das Ciências, no Convento de Jesus
da Ordem Terceira de São Francisco, frequentou o Curso Superior de Letras, trabalhou
no estabelecimento de ferrageiro do pai, na Rua dos Fanqueiros, fez a sua
estreia literária em 1873, no Diário de Notícias, situado na Rua dos Calafates.
A dupla correnteza
augusta das fachadas;
Pois sobem, no
silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris
de uma longínqua flauta.
Cesário Verde, Sentimento de um Ocidental
A sua última
residência foi no Lumiar, onde veio a morrer tuberculoso em 19 de Julho de 1886.
Trinta e um anos!
Está sepultado
no Cemitério dos Prazeres, em jazigo da família.
Um ano após a
sua morte, o seu amigo Silva Pinto organizou O Livro de Cesário Verde, compilação que veio a ter a primeira
edição em 1901.
O poeta tem um busto num pequeno jardim da Estefânia e na estação do
Metropolitano de Lisboa na Cidade Universitária estão transcritos dois versos de
Cesário Verde:
Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse
e conseguisse a perfeição das cousas
Texto de fotos
Beco das Barrelas / Direitos reservados.
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