de godard,
e eu procurava troco na carteira
para lhe
comprar o jornal. Ela dizia-me que
não era
preciso dar troco, e eu dava-lhe uma nota
para ela me
dar o jornal, e era como se já
o tivesse
lido nos seus olhos.
Nuno Júdice
Cada um de nós
terá o seu Cinema Paraíso. O cinema
da magia, da ilusão e da inocência da infância que um dia foi demolido ou mudou
de ramo: passou a ser um banco, um pagode de uma seita religiosa ou uma loja
chinesa; ou não passou a ser nada. O livro Os
cinemas de Lisboa – um fenómeno urbano do século XX, de Margarida
Acciauoli, editado pela Bizâncio (Lisboa, 2012), veio reavivar as recordações
ou mesmo os pequenos fantasmas caseiros de uma ou outra memória.
Ir ao cinema
não era uma rotina e as idas ao cinema tinham muitas vezes valor acrescentado
ao valor do filme: o voo da imaginação, a companhia dos amigos ou dos primeiros namoros, a bebida ou
o cigarro que se experimentavam no intervalo.
E o cinema não era apenas um
filme: era uma tarde ou uma noite de animação, com documentários,
apresentações, desenhos animados e o filme de fundo.
A autora do
livro faz um roteiro melancólico dos cinemas da infância e juventude de gerações
de lisboetas, debruçando-se sobre aspetos arquitetónicos e sociológicos. Cada
um dos seus leitores vai acrescentar alguma coisa de seu à memória dos cinemas
de Lisboa - desaparecidos, transformados em outras coisas, mais os que resistem
ao avanço de uma concorrência avassaladora.
Hoje há salas de
cinema por vezes mais confortáveis, com melhor som e imagem mais segura,
metidas em geral dentro de deprimentes centros comerciais e tresandando ao óleo
de fritos das pipocas.
Mas na memória de cada um há certamente um Cinema Paraíso implodido pelo avanço
inexorável de algo que não é propriamente progresso.
Texto João Francisco e fotos Francisco João
/ Direitos
reservados
Leia também:
Sem comentários:
Enviar um comentário