Perguntei ao
empregado de mesa do Martinho da Arcada: “Fernando Pessoa tem passado por cá?”.
Respondeu-me. “Uma vez por outra”. As novidades, no mais pessoano
café-restaurante de Lisboa, é que o Martinho tem concorrência nas Arcadas e, juntando-se
a concorrência com a crise, até já propõe uma lista de minipratos.
Localizado ao
fundo da arcada Nordeste da Praça do Comércio / Terreiro do Paço, o
estabelecimento foi fundado em 1778, como casa de bebidas e gelo, assumindo-se
como café em 1782. O Martinho da Arcada será assim o mais antigo café de
Lisboa. Bocage, Cesário Verde, Amadeo de Sousa Cardoso, Mário de Sá Carneiro,
Almada Negreiros, Fernando Pessoa, passaram pelas suas mesas e balcões. "É como se esperasse eternamente // A tua vinda certa e combinada // Aí em baixo no Café Arcada", escreveu Fernando Pessoa para Mário de Sá Carneiro. À mesa
do Martinho, Pessoa escreveu parte da Mensagem: E “O rosto que fita é Portugal”.
Referência de
Lisboa, muito procurado por altos magistrados e funcionários dos Ministérios, o
Martinho manteve, a preços para desencorajar intrusos, uma ementa de exigência: entradas de
ameijoas, mariscos e espargos, com exigentes molhos, o peixe era a garoupa e o cherne, a carne era do
lombo e da vazia. Mas o Terreiro tem agora mais sete restaurantes nas Arcadas, a clientela
democratizou-se, os turistas chegam de calções e chinelos. E o Martinho da
Arcada, a par da lista e da tabela de preços de sempre, propõe aos seus
clientes minipratos, constituídos por salgadinhos, servidos com saladas, modestas doses
de peixes e carnes mais plebeus, tudo pelo preço de 5 euros e 50 cêntimos. A
propósito de democracia, o Martinho da Arcada também promove tertúlias e
debates.
E para que não
restem dúvidas que os tempos mudaram e que está aí a crise, na esplanada do Marinho
da Arcada - Monumento Nacional desde 1910 - uma empregada de mesa exibe a ementa aos passantes, convidando-os a
entrar ou a sentar-se às mesas da esplanada.
Quanto ao
serviço, é o de sempre: profissional, discreto e atencioso.
Texto João Francisco. Fotos Francisco
João / direitos reservados
nunca comi bem no Martinho, mas também...
ResponderEliminarTalvez tenhas razão João Barbosa. Talvez nunca se tivesse comido especialmente bem no Martinho. Mas o que se saboreia ali é o espírito do lugar e o que mais se aprecia é o convívio com uns tantos espíritos ilustres, embora do outro mundo.
EliminarEste é um dos muitos exemplos da mudança para pior. É o inox ofuscante na parte exígua do café e o restaurante refinado e descaracterizado. Ainda nos anos 80 se comia ali o melhor prego de Lisboa.
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