segunda-feira, setembro 17, 2012

Da Mensagem ao miniprato

Perguntei ao empregado de mesa do Martinho da Arcada: “Fernando Pessoa tem passado por cá?”. Respondeu-me. “Uma vez por outra”. As novidades, no mais pessoano café-restaurante de Lisboa, é que o Martinho tem concorrência nas Arcadas e, juntando-se a concorrência com a crise, até já propõe uma lista de minipratos.
Localizado ao fundo da arcada Nordeste da Praça do Comércio / Terreiro do Paço, o estabelecimento foi fundado em 1778, como casa de bebidas e gelo, assumindo-se como café em 1782. O Martinho da Arcada será assim o mais antigo café de Lisboa. Bocage, Cesário Verde, Amadeo de Sousa Cardoso, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, passaram pelas suas mesas e balcões. "É como se esperasse eternamente // A tua vinda certa e combinada // Aí em baixo no Café Arcada", escreveu Fernando Pessoa para Mário de Sá Carneiro. À mesa do Martinho, Pessoa escreveu parte da Mensagem: E “O rosto que fita é Portugal”.
Referência de Lisboa, muito procurado por altos magistrados e funcionários dos Ministérios, o Martinho manteve, a preços para desencorajar intrusos, uma ementa de exigência: entradas de ameijoas, mariscos e espargos, com exigentes molhos, o peixe era a garoupa e o cherne, a carne era do lombo e da vazia. Mas o Terreiro tem agora mais sete restaurantes nas Arcadas, a clientela democratizou-se, os turistas chegam de calções e chinelos. E o Martinho da Arcada, a par da lista e da tabela de preços de sempre, propõe aos seus clientes minipratos, constituídos por salgadinhos, servidos com saladas, modestas doses de peixes e carnes mais plebeus, tudo pelo preço de 5 euros e 50 cêntimos. A propósito de democracia, o Martinho da Arcada também promove tertúlias e debates.
E para que não restem dúvidas que os tempos mudaram e que está aí a crise, na esplanada do Marinho da Arcada - Monumento Nacional desde 1910 - uma empregada de mesa exibe a ementa aos passantes, convidando-os a entrar ou a sentar-se às mesas da esplanada.
Quanto ao serviço, é o de sempre: profissional, discreto e atencioso.

Texto João Francisco. Fotos Francisco João / direitos reservados

3 comentários:

  1. nunca comi bem no Martinho, mas também...

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    1. Talvez tenhas razão João Barbosa. Talvez nunca se tivesse comido especialmente bem no Martinho. Mas o que se saboreia ali é o espírito do lugar e o que mais se aprecia é o convívio com uns tantos espíritos ilustres, embora do outro mundo.

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  2. Este é um dos muitos exemplos da mudança para pior. É o inox ofuscante na parte exígua do café e o restaurante refinado e descaracterizado. Ainda nos anos 80 se comia ali o melhor prego de Lisboa.

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