segunda-feira, julho 20, 2015

TAP: Imagem de um Povo

Há um momento da exposição “TAP Portugal: Imagem de Um Povo” em que o visitante se sente necessariamente assaltado por um misto de perplexidade e indignação: é quando um cartaz anuncia: “Nas rotas do Mundo, a presença da TAP prestigia Portugal”. Porque a exposição acontece no preciso momento em que o Governo acabou de vender a TAP, companhia de bandeira, construída à “imagem de um povo”, e a exposição reconstitui essa identidade que se foi criando entre um povo, um país e uma empresa nacional. A TAP, e a exposição, seguiu e segue o curso dessa identificação. Em tempos, um cartaz de promoção da TAP e das suas carreiras africanas, apresentou a História de Portugal, e em particular das descobertas marítimas, como credencial: “Voe com os descobridores: os nossos capitães têm 500 anos de viagens de e para África”.
Vale a pena ver a exposição, e vê-la demoradamente e em pormenor. É como visitar os mais velhos da família, como frequentar a memória.

Tapeçaria de Maria Keil, 1968,
para a delegação da TAP em Copenhaga
Outra perplexidade é a constatação desta política económica que, onde põe a mão, estraga. Houve um tempo em que a TAP transportava mais comodamente os seus passageiros, porque cada avião tinha lotação à medida da comodidade dos passageiros e não para transportar sardinhas em lata; em que os passageiros pagavam viagens mais baratas; em que havia mais pessoal a bordo, do que resultava serviço mais atento e melhor; em que as refeições tinham a marca de qualidade da cozinha, dos vinhos, dos queijos portugueses, e não consistiam numa carcaça descongelada, uma bebida e um café ou chá porque não pessoal para fazer segunda volta; hoje, que se perdeu toda essa qualidade, que se paga muito mais por um serviço muito pior, que os aviões transportam passageiros como gado e cobram tarifas desmesuradas, com muito menos gastos de pessoal… as companhias aéreas – e nomeadamente a TAP – estão sempre na iminência de fechar, de despedir, de cortar qualidade ao serviço.

Não foi há muito tempo que tudo isto era diferente e era melhor. E é lamentável que a aviação comercial voe para trás no respeito pelos passageiros que sustentam as companhias.
A exposição do Museu de Museu do Design e da Moda, em Lisboa, é um bom serviço à memória dos portugueses, sobre cuja identidade levantou voo a Companhia Aérea Nacional, vendida sem respeito pelo povo, pela bandeira, pela história e até mesmo pela economia.
  
 Exposição “TAP Portugal: Imagem de Um Povo - Identidade e Design da Companhia Aérea Nacional (1945-2015)”, inaugurada no MUDE / Museu do Design e da Moda, em Lisboa, onde vai ficar até 25 de Outubro.

Como o título da exposição deixa antever, “TAP Portugal: Imagem de Um Povo - Identidade e Design da Companhia Aérea Nacional (1945--2015)” pode ser lida de duas maneiras. "As peças em exposição traduzem o contributo do design para a consciencialização coletiva da TAP como símbolo nacional e para a identificação dos portugueses com a (sua) companhia de bandeira, assim como o modo como concorreu para a construção e disseminação da imagem de um povo e do seu país além-fronteiras durante os últimos 70 anos", escreve a diretora do MUDE, Bárbara Coutinho, sobre a exposição, cuja curadoria assume.

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