O poeta José Carlos
Ary dos Santos deixou-nos há 30 anos, em 18 de Janeiro de 1984. Mas não morreu,
porque a poesia não morre. E a poesia de Ary dos Santos – poeta de Lisboa e do seu
povo - continua viva.
Retrato do Povo de Lisboa
É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.
Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.
Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.
José Carlos Ary dos
Santos, Fotosgrafias
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