terça-feira, novembro 06, 2012

O Bairro que é Alto 24 horas por dia


Eu mudei, fiquei mais velho, mas o bairro também mudou. Já não tem a inocência daquela época. Aquele lado efervescente das esquinas, dos cafés e dos jornais, para mim, era uma coisa diária. Era vida.
Dinis Machado, entrevista à revista Ler, Outono de 2002

Em quase 500 anos de história, o Bairro Alto já foi muita coisa: a quinta do cirurgião judeu Guedelha Palaçano, a Vila Nova de Andrade, o Bairro Alto de São Roque. Mas mesmo quando albergava palácios que lhe davam um tom aristocrático, o Bairro Alto foi sempre popular, boémio e artístico.
Diário de Lisboa
Desde meados de século XIX ao último quartel do século XX, foi também o Bairro dos jornais. Desse tempo, restam no Bairro as ruas do Século e do Diário de Notícias - o primeiro acabou, o segundo mudou-se. E resta a redação do jornal A Bola. Nos tempos do Bairro dos jornais, estes fechavam tarde, traziam as críticas de teatro e de cinema na manhã seguinte à estreia. E os jornalistas e outros colaboradores saiam para jantar e voltavam para fechar a edição.
Luso
Antes e durante parte dessa época, o Bairro Alto foi o centro do fado, da boémia, da prostituição. Do fado ficaram 10 casas de turismo e diversas tascas de fado vadio. A prostituição deixou memória no livro “O vício em Lisboa”, de Fernando Schwalbach: “Porta da rua, um pequeno balcão ocupando metade dessa porta; a tapar a vista para o interior, um pano branco a servir de cortina, e que de noite, com a luz do candeeiro de petróleo, nos dá a ilusão de um animatógrafo”. Quando em 1963 os bordéis foram ilegalizados e encerrados, haveria em Portugal 5.276 prostitutas e 485 casas de passe legalizadas.
Frágil
A nova boémia do Bairro Alto organizou-se a partir dos anos 80 do século passado e o bar e discoteca Frágil ficou como um ícone das longas noites de Lisboa. Hoje haverá dezenas de bares em certas ruas do Bairro, muitos dos quais não passam de uma porta e um balcão. Beber, bebe-se na rua. A moda também assentou arraiais no Bairro. Fátima Lopes será o nome mais conhecido dos ateliês e lojas instalados no Bairro Alto. Come-se bem no Bairro Alto. E não é só no Pap’Açorda. É também no Farta Brutos, no 1º de Maio, na Tasca do Manel e em muitos outros restaurantes e tascas. 
Hospital de S. Louis


Palácio e Museu Maçónico
Para além disso o Bairro alberga o Conservatório Nacional há 175 anos. Há 152 anos instalou-se no Bairro Alto o Hospital de S. Louis dos Franceses, onde morreu Fernando Pessoa, em 1935. E no Bairro Alto funciona, em edifício próprio, o Palácio Maçónico e o Museu da Maçonaria - com exceção do período de tempo do fascismo em que a Maçonaria foi ilegalizada e as instalações ocupadas pela Legião Portuguesa.
 
Com tudo isto e mais a população residente, o Bairro Alto vive 24 horas por dia. Diga-se que para desespero de boa parte dos residentes que não se conforma com o barulho das luzes e tudo o que fica pelas ruas depois de uma noitada.
 


E claro está que o Bairro tem música.


    Texto e fotos Becos das Barrelas / Direitos reservados.

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