segunda-feira, outubro 08, 2012

O Fado da crise

O setor da restauração é dos mais afetados pela crise: os custos das matérias-primas, os encargos gerais - eletricidade, gás, água, rendas, pessoal - e os impostos, em particular o IVA a 23 por cento, têm levado à insolvência milhares de estabelecimentos, como também milhares de trabalhadores ao desemprego.
Agora é que se vê quem tem unhas para tocar a guitarra da imaginação e atrair uma clientela cada vez mais reduzida, pois a crise também está a alterar grandemente os hábitos de consumo da população. Já aqui falámos dos minipratos do Martinho da Arcada, agora trazemos o exemplo do Café Nicola.
Fundado no final do século XVIII, era então conhecido por Academia, dada a frequência intelectual das suas mesas. Café literário, café com história, o Nicola - hoje Café Restaurante Nicola - chegou a ser famoso pelo seu bife, o Bife à Nicola.
Mas a crise não se compadece com a história e hoje o Nicola, para atrair clientela, sobretudo a clientela estrangeira que sempre visita Lisboa e frequenta o Rossio, passou a ter fados e guitarradas, de quinta a domingo.
É a crise, é o fado. De tal maneira que já há quem cite uma quadra atribuível a Manuel Maria Barbosa du Bocage,
Elmano Sadino, poeta e assíduo
frequentador do Nicola:
 
Sou o Bocage do Sado
E vou ao Café Nicola
Para ouvir cantar o fado
À guitarra e à viola.
 
Ver também:
Da Mensagem ao miniprato
 
Texto e Fotos do Blogue das Barrelas / Direitos reservados.

3 comentários:

  1. Ainda é bom,o bife,no Nicola?

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  2. Noutra versão, Manuel Maria abandonava, já tarde, o Nicola, quando foi interpelado por um facínora armado se pistola.
    "Quem és, donde vens, p'ra onde vais?"
    Respondeu o vate:

    "Sou o poeta Bocage,
    Venho do café Nicola.
    Vou para o outro mundo
    se disparas a pistola."

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