quinta-feira, outubro 18, 2012

Memórias de pedra dos anos de chumbo


"Cuando tú desembarcas en Lisboa, // cielo celeste y rosa rosa, // estuco blanco y oro, // pétalos de ladrillo (…) no sabes que detrás de las ventanas // escuchan, // rondan  // carceleros de luto (…) la policía // bajo las otoñales cornucópias // buscando portugueses, // rascando el suelo, // destinando los hombres a la sombra."
Pablo Neruda / El Puerto Color de Cielo, 1953 *
 
O viajante que chega a Lisboa / Santa Apolónia depara, eventualmente, com uma lápide homenageando o “general sem medo”, Humberto Delgado, que ali desembarcou em 16 de Maio de 1958, sendo esperado por “milhares de pessoas”.
Se o viajante visitar a Sé de Lisboa, e da Sé subir para os miradouros de Santa Luzia ou das Portas do Sol, vai possivelmente dar por um edifício austero com grades sinistras onde outrora, “do silêncio das ‘gavetas’  da Pátria amordaçada (…) subiu o clamor da liberdade e floriu Abril”.
Se visitar o Chiado e seguir para a baixa pela Rua António Maria Cardoso, poderá, se for muito perspicaz, vislumbrar uma inscrição na parede de um condomínio de luxo, que reza que ali, “na tarde de 25 de Abril de 1974, a PIDE abriu fogo sobre o povo de Lisboa e matou”.

Na estação de Santa Apolónia, no Aljube, na antiga sede da PIDE (foto à direita) há memórias de pedra dos anos de chumbo. Como no Alto de São João há o monumento que honra os mortos do Tarrafal. Ou, nos Prazeres, o túmulo do capitão Henrique Galvão reza que “quando a ditadura é um facto a revolução é um direito”.
A memória dos portugueses não foi para a cova. Está gravada em pedra para que dure.
Texto João Francisco. Fotos Francisco João / Direitos reservados.

* Leia o poema de Pablo Neruda La Lámpara Marina na íntegra aqui no blogue Absorto, editado por Eduardo Graça.

1 comentário: