quarta-feira, novembro 26, 2014

Lisboa nos Livros V – O Inverno em Lisboa, de António Muñoz Molina

«Da janela do meu quarto via uma praça e o perfil da estátua de um rei a cavalo que enfaticamente apontava para o Sul.»
António Muñoz Molina, 
O Inverno em Lisboa
Quetzal, 1991

Jean-Pierre Castellani, da Universidade de Tours, tem um  estudo sobre a novela de Muñoz Molina, associada ao filme realizado a partir do mesmo texto, um e outro com Lisboa como referência. 

A novela desenrola-se em três cidades, San Sebastian, Madrid e Lisboa e Castellani diz que «todas as cidades» - as da novela e não só - «estão simbolizadas e sintetizadas em Lisboa». É a cidade do destino, a cidade que se procura, a âncora que vai manter-se pela vida fora, tal como o par de Casablanca tinha sempre para si a referência de Paris.
Na novela de Muñoz Molina, Lisboa é uma cidade mítica do restrito circuito que compreende Veneza, Istambul ou Nova Iorque. O Inverno em Lisboa coloca a capital portuguesa no centro de uma geografia de encontros e desencontros, de presenças e de ausências, tanto de pessoas como das próprias cidades.
A trama de O Inverno em Lisboa conta uma história a três, o pianista de jazz Santiago Biralbo, o traficante de arte Bruce Malcom e a mulher deste, Lucrécia. E conta também os encontros e desencontros com cidade que fazem parte do enredo, não são meros cenários. Há um narrador não identificado que fala com Biralbo e comunica com o leitor. E há Lisboa.

«Desde que Biralbo a conhecera, Lucrécia tinha vivo no desassossego e na suspeita de que a sua verdadeira vida estava à espera dela noutra cidade e entre pessoas desconhecidas (…) Durante anos teria dado tudo para viver em Praga, em Nova Iorque, em Berlim, em Viena. Agora o nome era Lisboa».
«Tinha imaginado uma cidade tão enevoada como San Sebastian ou Paris.
E Lisboa vai surpreendendo as personagens da novela de encontros e desencontros, com as suas ruas empinadas, os ascensores e elevadores que sobem e descem da Baixa para a Alta. E com a sua luz e cor, predicados ímpares de Lisboa. 
«Ficou surpreendido com a transparência do ar, a exactidão do cor-de-rosa nas fachadas das casas, a uniforme cor avermelhada dos telhados, a estática luz dourada que perdurava nas colinas da cidade com um esplendor de chuva recente.»
Texto de João e Fotos de Francisco 
Beco das Barrelas

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