quinta-feira, março 28, 2013

Alguma coisa mexe no Parque


O Teatro Variedades avança, ainda este ano, para obras de requalificação, anunciou o presidente da Câmara de Lisboa. Ao mesmo tempo, vai avançada a reabilitação do Teatro Capitólio, convertido em Teatro Raul Solnado, mesmo em frente do Variedades. Entretanto, o Teatro Maria Vitória tem vivido aos soluços.
De resto, fechou tudo no Parque, menos o restaurante da Gina. Morreram os últimos habitantes, o cenógrafo e pintor de génio Mário Alberto, e a Mimi, coproprietária, com as duas irmãs - Amadora e Vitória -, do que foi um simples e simpático bistrô 
 
 
 
 
O Parque Mayer transformou-se num gigantesco e caótico estacionamento de automóveis, desde que a Câmara fechou o Parque, desmantelou a Feira Popular e se meteu numa embrulhada sem princípio nem fim de permuta de terrenos das duas áreas. Perderam-se ambos os parques de diversões, entre negócios pouco claros e projetos megalómanos. E a embrulhada de negócios para o espaço da Feira, em Entrecampos, e a área do Parque, entre a Avenida da Liberdade e o Jardim Botânico, tornou-se um romance de cordel com enredo difícil de acompanhar.
O facto de estar um teatro em reabilitação e avançar outro para o mesmo destino no espaço do Parque Mayer acende uma pequena luz ao fundo do túnel deste comboio-fantasma que foram alguns projetos na grande e belíssima cidade de Lisboa.

Texto e fotos Beco das Barrelas. D.R.

Ver também:
Parque Mayer que já foste

Mensagem do Dia Mundial do Teatro - 2013

Há muito tempo, o Poder mostrou a sua intolerância para com os actores da Commedia dell’Arte expulsando-os do país.
Hoje em dia, actores e companhias sentem grandes dificuldades em encontrar palcos e teatros públicos, bem como espectadores, e tudo por causa da crise. Portanto, os governantes já não estão preocupados em controlar os que se exprimem pela ironia e pelo sarcasmo, uma vez que, não havendo lugar para os actores, não há público a quem se fale.
 
Pintura mural no espaço do Parque Mayer, em Lisboa
Ao contrário disto, durante o Renascimento, em Itália, os detentores do poder tiveram de fazer um esforço considerável para manter os Commedianti na ordem, uma vez que gozavam de ampla audiência.
É facto sabido que o grande êxodo dos Commedianti dell’arte aconteceu no século da Contra-Reforma, que decretou a destruição de todos os espaços teatrais, especialmente em Roma, onde foram acusados de ultraje à cidade santa. Em 1697, o Papa Inocêncio XII, pressionado por insistentes pedidos da ala mais conservadora da burguesia e dos altos representantes do clero, ordenou a destruição do teatro de Tordinona onde, segundo os moralistas, se tinha levado a cena o maior número de peças obscenas.
Na época da Contra-Reforma, o cardeal Borromeo, em funções no Norte da Itália, consagra-se com empenho à redenção dos «filhos de Milão», estabelecendo um distinção clara entre a arte, enquanto mais alta forma de educação espiritual, e o teatro, manifestação de blasfémia e vaidade. Numa carta dirigida aos seus colaboradores, que cito de memória, escreve mais ou menos isto: “Nós, que nos preocupamos em extirpar a erva daninha, envidámos os maiores esforços para lançar ao fogo todos os textos contendo discursos infames, erradicá-los da memória dos homens e, ao mesmo tempo, perseguir também todos aqueles que divulgaram tais textos sob forma impressa. É evidente que, enquanto dormimos, o Diabo trabalha com redobrada astúcia. Quanto mais a alma se deixa impregnar pelo que os olhos vêem do que por aquilo que se lê nos livros! Quão mais devastador para as mentes jovens e rapariguinhas é a palavra dita e o gesto apropriado do que uma palavra morta, impressa num livro. Portanto, torna-se urgente livrar as nossas cidades da gente do teatro, tal com fazemos aos espíritos indesejáveis.”
Assim sendo, a única solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas dirigida contra nós e, sobretudo, contra os jovens que querem aprender a arte do teatro: teremos então uma nova diáspora dos Commedianti, dos fazedores de teatro, que sem dúvida retirarão de tal experiência inimagináveis benefícios em prol de novas formas de representar.

Dario Fo, Prémio Nobel da Literatura 1997

Tradução de Maria João da Rocha Afonso

1 comentário:

  1. Parabéns pelo seu blogue! Vou tornar-me seguidora. E muito obrigada pela homenagem ao teatro

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