segunda-feira, janeiro 12, 2015

Intolerância, estupidez e um fósforo

Uma pobre de espírito pretensiosa escreve no Observador, jornal online, contra os grafiti que, deliberada e tendenciosamente, mistura com a chamada street art, num chorrilho de lugares comuns traduzidos da língua original da articulista para português.
A palavra é livre até mesmo para dizer e escrever baboseiras. Mas no final do texto a autora revela a verdadeira índole quando escreve:
«Nobilitar a sua arte [a chamada arte urbana, entenda-se] é como nobilitar as tralhas que se encontram numa feira suburbana de artesanato, tralhas como aquelas coisas de malha na forma de uma boneca, com vestido grande, para cobrir rolos de papel higiénico».
E acrescenta:
«Mas espere, pensando bem, talvez fosse preferível nobilitar aquelas coisas de malha na forma de uma boneca para cobrir os rolos de papel higiénico, porque ao menos eu poderia sair a meio da noite e pôr-lhes um fósforo. Desapareciam num instante».

Nem mais, nem menos: «pôr-lhes um fósforo»! O espírito de pegar fogo aquilo de que não se gosta, ou com que não se concorda, já foi usado na História para queimar livros, em Berlim, ou para assassinar cartoonistas, em Paris. Mais recentemente, houve um caso de fogo posto na redação do Hamburger Morgenpost. E com este texto, e os complementos dos seus leitores que subescrevem améns no texto em questão, lá se vai tudo quanto a colunista papagueou em relação ao atentado contra o Charlie Hebdo.

Os comentários que o texto da pobre de espírito suscitam aos leitores do Observador, e que o Observador acolhe, são de grande transparência, especialmente quando associam toda esta “problemática” à cor da pele do presidente da Câmara de Lisboa.

Conviria talvez que a colunista - que, tanto quanto dá a entender, nem sequer está a viver e a opinar no seu país - se tivesse informado sobre dados reais, que existem, acerca do papel que a arte urbana tem tido em alguma contenção e recuo do vandalismo sobre as paredes da cidade. Mas a colunista – que identifica os autores de pichagens nas paredes como «anarquistas e comunistas», no mais puro estilo mcarthista - tem ideias mais profundas e objectivos mais radicais que culminariam, provavelmente, numa grande fogueira inquisitorial.
Texto e fotos Beco das Barrelas

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