
A verdade é
que já anteriormente o Tribunal da Boa-Hora fora alvo de polémica em torno da
respetiva memória. O poder judicial acedeu em colocar uma lápide na 6ª Vara Criminal
do Tribunal da Boa-Hora onde, antes da revolução de 25 de Abril de 1974, os
presos políticos eram julgados e condenados em tribunais plenários. Mas para
que o poder judicial acedesse a tal pretensão foi necessária perseverança e
alguma cedência, por parte de antigos presos políticos e também de alguns novos
magistrados. E, mesmo assim, para que se evocasse a existência e a extinção de
tribunais plenários em Portugal, foi necessário consentir que o poder judicial
participasse na redação do texto lapidar, cortando aqui, omitindo ali,
reescrevendo acolá.
E foi assim
que na lápide descerrada na Boa-Hora onde deveria ler-se "foram julgados
inúmeros adversários e presos políticos da ditadura…", se lê apenas "foram
condenados inúmeros adversários do regime". Onde se leria que "a justiça e os
direitos humanos não foram dignificados nem respeitados no Tribunal Plenário",
lê-se simplesmente "A justiça e os direitos humanos não foram dignificados". E
onde se teria lido "O Tribunal não atuava com independência, aceitava e cobria
as torturas e ilegalidades cometidas pela PIDE/DGS, limitava-se, salvo exceção,
a repetir a sentença que a polícia política já tinha definido", não se lê
simplesmente nada.
Mas agora, na
posse definitiva do Ministério da Justiça, o antigo Convento da Boa-Hora
acolherá o futuro Museu do Judiciário e o Centro de Estudos Judiciários que desde a sua criação funcionou na antiga cadeia do Limoeiro.
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