sexta-feira, março 27, 2015

Parque Mayer: Ideias há muitas

O presidente da Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa, quer fazer do Parque Mayer uma "aldeia cultural", com salas de espetáculos, museus e instituições de ensino artístico, segundo um projeto daquela autarquia hoje apresentado.
O presidente da Junta, Vasco Morgado (neto do empresário com o mesmo nome e de Laura Alves) apresentou na Comissão Municipal de Cultura, Educação, Juventude e Desporto um projeto de revitalização do Parque Mayer, que pretende tornar aquele espaço uma "aldeia cultural em Lisboa, no centro da cidade".
O projeto passa por acolher o Museu do Brinquedo, que encerrou portas em agosto em Sintra, um polo do Museu do Teatro, situado no Lumiar, e a "deslocação" para aquele local das escolas de Música e de Dança do Conservatório Nacional, situadas no Bairro Alto, e da Escola Superior de Teatro e Cinema, na Amadora.

O presidente da Junta de Santo António acredita que o projeto hoje apresentado "resolve vários problemas da cidade: o próprio Parque Mayer, o mau estado do edifício do Conservatório de Música, os teatros voltam a ter gente, o Museu do Brinquedo passa a ter um espaço".


Os deputados da comissão municipal reconheceram a necessidade de se reabilitar o Parque Mayer, e, por isso, saudaram o projeto, mas apresentaram algumas dúvidas.
Quiseram saber, por exemplo, qual será o investimento necessário e quem o irá suportar.

Fotos Beco das Barrelas 

terça-feira, março 24, 2015

Há 100 anos, em Lisboa, nasceu o futuro

Há 100 anos, das oficinas da Tipografia do Comércio, na Rua da Oliveira ao Carmo, nº 10, no local onde até há poucos anos funcionou a redação do Diário Económico, em frente do restaurante Alcobaça, saiu o nº 1 da Orpheu, Revista Trimestral de Literatura, editada por António Ferro, dirigida por Luiz de Montalvôr e Ronald de Carvalho.
A capa de José Pacheco ainda hoje se reconhece à distância de um século: anunciava a afirmação das vanguardas modernistas em Portugal. O jornal A Capital chamou-lhe “literatura de manicómio”.

Colaboravam no 1º número da revista Orpheu Luís de Montalvor, Mário de Sá-Carneiro – Indícios de ouro –, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa – O Marinheiro (drama) -, José de Almada-Negreiros – frisos (prosa) -, Côrtes-Rodrigues, Álvaro de Campos – Opiário e Ode Triunfal:

… Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!...

A assinalar o centenário da Orpheu, em Lisboa:
Fundação Gulbenkian – Congresso Internacional do Centenário do Orpheu;
Biblioteca Nacional - exposição “Os caminhos de Orpheu”;
Biblioteca-Museu República e Resistência, quarta-feira, dia 25, Conferência “Orpheu – 100 anos depois, A grande mudança na literatura, por António Valdemar, jornalista, investigador e membro da Academia das Ciências.
Casa Fernando Pessoa - programa com artes plásticas, performances e leituras;
CCB – Sábado, 28 de Março, conferência pelo ensaísta Eduardo Lourenço.

Na Ilustração de 1 de Agosto de 1929, Reinaldo Ferreira, o Repórter X, reporta os encontros de 1915 dos "futuristas" da revista Orpheu, no Congresso de Artistas e Escritores da Nova Geração, na Cervejaria Jansen: 

«Estavam lá todos», na Cervejaria Jansen: Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Santa Rita Pintor, Mário de Sá Carneiro, «Jorge Barradas, o “Barradinhas”, elegância cinematográfica», «o Stuart, o terno estilizador da garotada, dos “Quins” e dos “Manecas”», «o José Pacheco, parisiense, bar-gluch, magro, enluvado, arlequim dos grandes projectos do ópio, vestido pelas modas da alfaiataria que ainda não chegou a Portugal». E rematava: «Estavam lá todos». 

segunda-feira, março 16, 2015

Um jardim de Lisboa entre 250 jardins do mundo

A organização The Gardener’s Garden identificou os 250 jardins mais notáveis do mundo, entre os quais situou cinco jardins portugueses e destes um jardim de Lisboa: o jardim do Palácio de Fronteira.
Entre os jardins selecionados encontram-se alguns bastante previsíveis, tantas e tão frequentes são as nomeações que recebem. É o caso dos clássicos e inevitáveis jardins do Taj Mahal, na Índia; do Kew Gardens, em Inglaterra; os jardins de Versalhes, em França; do Alhambra, em Espanha; a High Line de Nova Iorque; ou o sítio de Roberto Burle Marx, no Brasil.
No capítulo dedicado ao Sudoeste Europeu - França, Espanha e Portugal -, surgem as cinco escolhas portuguesas:
Em Lisboa, os jardins do Palácio Fronteira, da Fundação Casas de Fronteira e Alorna (nas fotos);
No Porto, o Parque de Serralves, da Fundação do mesmo nome;
em Sintra, a Quinta da Regaleira, da CulturSintra; Nos Açores, o Parque Terra Nostra, propriedade do Grupo Bensaúde ligado à hotelaria; e a Quinta do Palheiro, ou Palheiro Estate, no Funchal, Madeira, propriedade da família Blandy.

Consideremos o jardim
Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.


Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.




Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
Fotos Beco das Barrelas

sexta-feira, março 13, 2015

Cidadãos querem salvar lojas de carácter e tradição

Paraíso perdido
A crise, com brutal diminuição do consumo interno e agravada pelo aumento das rendas, levou ao encerramento muitos estabelecimentos de Lisboa. Basta andar pelas ruas da cidade: lá fechou mais uma porta, lá mudou de ramo, ou de proprietário, mais uma instituição, lá está mais uma loja com morte anunciada, lá está mais um ícone da cidade condenado à morte, mais memória perdida, mais história deitada para o lixo.
Cidadãos associados no Fórum Cidadania Lx - movimento para salvaguarda do património de Lisboa – criaram agora uma plataforma que junta lojas com mais de meio século em torno de um objetivo: travar a tendência de desaparecimento destes espaços e revitalizar o comércio tradicional.
Alfarrabista Barateira é agora uma Barbière
Nos últimos três meses, o Fórum Cidadania Lx  fez um levantamento das várias lojas tradicionais existentes na capital portuguesa, contactando com os proprietários para integrarem o "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição", sem qualquer custo para os lojistas, com o objetivo de "promover o comércio de caráter e tradição a nível local, nacional e internacional, designadamente pela via cultural e turística".
O projeto pretende "colocar estas casas [lojas] nas rotas turísticas nacionais e estrangeiros", pelo que está em estudo, através da Associação de Turismo de Lisboa, "a integração das lojas nos mapas da cidade".
O "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição de Lisboa" vai ter uma insígnia própria para distinguir as lojas tradicionais de outros estabelecimentos e um roteiro de visitas às lojas integradas no projeto.
Fotos Beco das Barrelas 

quinta-feira, março 12, 2015

Correr em Lisboa





Os portugueses em geral, e nomeadamente os lisboetas, estão mais dedicados à prática do desporto a modalidade quer mais praticam é a corrida ao ar livre, revelam dados divulgados pela agência Lusa e difundidos pelos jornais.

O exercício ao ar livre, principalmente a corrida, não dispensa por completo o recurso aos ginásios, complemento para controlar e quantificar o treino físico. A Associação de Ginásios de Portugal diz que se registou uma subida de quase 20 por cento do número total de clientes, para mais de 280 mil em 2014, tendo quase metade das unidades aumentado a faturação. Os anos de 2012 e 2013 foram "dramáticos para os ginásios", diz a Associação, tendo encerrado muitas unidades. O abaixamento dos preços trouxe de novo o aumento dos clientes dos ginásios.
Para a prática do exercício ao ar livre, a cidade de Lisboa está bem dotada de espaços para a corrida e o exercício físico em geral:
1. Parque Monsanto  e Corredor Verde  
2. Zona Ribeirinha de Belém
3. Parque Eduardo VII 
4. Jardim da Estrela
5. Centro Desportivo do Jamor 
  6. Jardim da Quinta das Conchas
7. Parque das Nações
  8. Estádio Universitário
9. Parque da Bela Vista 
 10. Parque Vale do Silêncio
11. Mata de Alvalade
12. Estádio 1º de Maio, Inatel (para sócios)
Texto e fotos Beco das Barrelas

quarta-feira, março 11, 2015

Lisboa campeã em títulos

Mais um! Agora foi o site norte-americano “Elevated Today” a atribuir a Lisboa mais um título, o de Capital Europeia dos Artistas, o que coloca esta cidade que amamos acima de Barcelona, Paris e Berlim.

Para conquistar, sem concorrer, mais este título, Lisboa tem o que tem: boa, acessível e autêntica oferta cultural, gastronomia variada – atlântica, mediterrânica e continental -, clima propício. E tem, acima de tudo isto, a afabilidade do seu povo.
“A nova capital da cultura europeia está aqui: e não é Berlim, Barcelona ou Paris”, anuncia o site americano. Os autores visitaram a cidade e ficaram surpreendidos por ser “incrivelmente barata” em comparação com outras capitais europeias. A “enorme oferta e autenticidade”, levou-os ainda a considerar a cidade como o novo destino para os amantes da cultura e para os criadores.
E é assim: tão naturalmente como a espontaneidade de Lisboa, outros vão escolhendo esta cidade encantada.
Texto e fotos Beco das Barrelas 

domingo, março 08, 2015

O Pulmão da Cidade

O Parque Florestal de Monsanto vai a caminho dos 80 anos: o decreto que o criou tem data de 1 de Novembro de 1936. O padrinho do Parque foi o engenheiro Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas e presidente da Câmara de Lisboa, o pai foi o arquiteto Keil do Amaral, autor do projeto. Mas nem a ideia nem o projeto foram respeitados logo à nascença do Parque: a florestação, iniciada a partir de 1938, deixou espaços livres para equipamentos que vieram a ser ocupados por instituições militares; algumas zonas expropriadas com destino ao Parque foram urbanizadas. 
No início dos anos 70, a lei consagrou a utilização do Parque como reserva para instalação de infraestruturas diversas – RTP, Serviços Prisionais, etc. - mas o Parque foi salvo por um decreto de 1974 proposto pelo arquiteto Ribeiro Telles, o que permitiu que o Parque fosse delimitado em 1979: o Parque de Monsanto tem Parque de Campismo, Parques Recreativos, Parque de Merendas, um Centro de Recuperação de Animais Silvestres, instalações, circuitos e rotas desportivas, restaurantes, e um Corredor que liga Monsanto ao alto do Parque Eduardo VII.
Não tem sido fácil a vida do Pulmão Verde de Lisboa. Mas, no entanto, ele respira.
Texto Beco das Barrelas, fotos Joana Francisca / D.R.

sábado, março 07, 2015

"Velhos que ninguém atura..."

Lisboa está uma cidade mais envelhecida do que o próprio Portugal. A percentagem da população idosa (mais de 65 anos) no País é de 16 por cento; em Lisboa será de 23 por cento. Há em Lisboa mais de 125 mil idosos, muitos dos quais a viver sozinhos.
Serão «velhos que ninguém atura a não ser a literatura e outros velhos», escreveu Alexandre O’Neill. 
Que ao menos reste a cada velho um pouco de vaidade de si próprio, como a este residente da Mouraria que aproveitou o sol da manhã e veio à janela observar-se ao espelho e cuidar do visual.


Texto Beco das Barrelas

Foto Teresa Rouxinol

terça-feira, março 03, 2015

Biblioteca Central de Lisboa fecha para obras (completas)

O Palácio Galveias, do século XVII, onde está instalada a Biblioteca Central de Lisboa, fechou para obras de requalificação. O Palácio vai ser alvo de uma intervenção que permitirá ampliar de 1336 m2 para 2040 m2 a área da Biblioteca Central de Lisboa e modernizá-la para que se torne "uma biblioteca do século XXI, contemplando novas valências e espaços atraentes, acolhedores e estimulantes para toda a comunidade", anuncia a Câmara Municipal de Lisboa.
O Palácio Galveias foi construído no século XVII destinado a casa de campo dos Marqueses de Távora. Permaneceu na família até 1759, data em que foi confiscado pelo Estado no âmbito do célebre processo dos Távoras.


Os trabalhos estão orçados em 1,5 milhões de euros, e vão prolongar-se por 18 meses, isto é, até Setembro de 2016. Até lá, os exemplares com mais procura e leitura na Biblioteca do Campo Pequeno vão estar disponíveis nos restantes equipamentos 

Fotos Beco das Barrelas

quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Era uma vez um barco de casco para o ar

O Tollan ainda se afundou a preto e branco
Entre 16 de Fevereiro de 1980 e 2 de Dezembro de 1983 Lisboa teve uma atração turística supranumerária: um barco de casco para o ar, o Tollan.
Era um barco a sério, um navio porta-contentores inglês que colidiu no nevoeiro com um cargueiro sueco, o Barranduna, e começou a submergir no Tejo, em frente do Terreiro do Paço. O naufrágio custou a vida a quatro dos 16 tripulantes do Tollan. Mas o mais original é que dois dias depois do naufrágio o Tollan rodou 180 graus e encalhou de casco para o ar. O casco era inicialmente vermelho mas foi perdendo a cor, ganhando no entanto algumas inscrições políticas.
E apesar de constituir perigo evidente para a navegação no Tejo, o Tollan ali ficou três anos – 3 anos 3 –, resistindo heroicamente a diversas tentativas de remoção. Em Lisboa, quando não havia absolutamente mesmo mais nada para fazer, as pessoas iam ver o Tollan, vendo talvez no porta-contentores inglês a imagem de um país encalhado. Começou num mês de Fevereiro há 35 anos. Nesse ano, a RTP começou as emissões a cores; em Coimbra foi restabelecida a Queima das Fitas; etc. 

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

O Bairro das dez igrejas

Igreja de Nossa Senhora de Jesus, Mercês
O Bairro Alto, apontado desde tempo imemoriais como bairro da boémia e da má vida, é também na cidade de Lisboa um bairro de templos e de culto religioso: nove Igrejas e dois conventos com igreja asseguram no Bairro locais de religiosidade: E a dois passos, há mais quatro igrejas.

Igreja de São Roque
Igreja das Chagas
Igreja da Encarnação
Igreja do Loreto
Igreja dos Paulistas
Igreja de Santa Catarina
Igreja de Nossa Senhora de Jesus
Igreja de São Pedro e São Paulo
Convento da Nossa Senhora da Conceição dos Cardais
Convento e Igreja São Pedro de Alcântara

Convento e Igreja de S. Pedro de Alcântara

E ainda, em S. Mamede:
Igreja de São Mamede
 E no Chiado:
Igreja do Loreto
Igreja dos Mártires
Igreja do Sacramento 
Igreja do Carmo

No Bairro Alto até houve uma igreja dispensada pela Igreja e posta à venda, a Igreja de São Pedro e São Paulo, integrada no Convento dos Inglesinhos.
Igreja do Sacramento









Distingamos uma delas, pela sua monumentalidade, a
Igreja de Nossa Senhora de Jesus, Paroquial das Mercês. Datada do século XVII e reconstruida após o Terramoto, o templo é Imóvel de Interesse Público, classificação alargada mais tarde, como Conjunto de Interesse Público ao antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus e respectiva cerca, incluindo a Academia das Ciências, o Museu Geológico do Instituto Geológico e Mineiro, a Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora de Jesus e o Hospital de Jesus.

Este País sempre teve mais Igrejas que escolas e hospitais. E este Bairro não é só uma marcha que passa. São 500 anos de História. 
Texto e fotos Beco das Barrelas 

domingo, fevereiro 15, 2015

Olhares

Eu Sou do Tamanho do que Vejo
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.



Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Fotos : Olhares sobre Lisboa, Beco das Barrelas

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Amor é

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões

O amor cerra os olhos, não para ver 
mas para absorver: a obscura transparência,
a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se 
sobre a terra coroada: animal das águas, 
animal do fogo,animal do ar:a matéria é só uma,
terrestre e divina.
António Ramos Rosa, 
de Três Lições Materiais

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso
Maria Teresa Horta, Morrer de Amor 



14 de Fevereiro, 
Dia dos Namorados,
não há festa na Voz do Operário.
Não há festa mas há programa:
Matinée RADIO SHOW, 
com bailarico. E soirée com
RÁDIO ROYALE e 
ORQUESTRA IDEAL

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Toponímia

André Brun, dramaturgo, cronista, argumentista de filmes, é vizinho de Gervásio Lobato, dramaturgo, jornalista, comediógrafo, na toponímia em Campo de Ourique.
Francisco Ribeiro “Ribeirinho” é nome de rua de Arroios, só vizinha de santas e de frades. Já Vasco Santana, o Pai Tirano de Ribeirinho, foi para a Portela, fora de portas. Quanto a João Villaret vai dar à Avenida de Roma. O Bairro dos Actores é de outras gerações: a actriz Virgínia, o actor Vale.
Ivone Silva está longe da Avenida e mais perto de Entrecampos; são as trocas baldrocas entre o Parque e a Feira Popular.
Já o actor António Silva é paralelo a Fernando Curado Ribeiro, também actor, galã do cinema português e locutor de rádio. Contracenam em ruas do Lumiar, como contracenaram no Costa do Castelo ou na Menina da Rádio.
Mas Alice Cruz é nome de jardim em São Domingos de Benfica e não tem vizinhos do ofício da rádio e televisão. Jorge Alves é que ficou vizinho da Rua do Quelhas mas a Emissora mudou de poiso.
Amália cantou “Nome de Rua” mas é nome de jardim, no alto do Parque. Fernando Maurício, em Braço de Prata, está longe da Igreja de Santo Estevão. Em linha reta estará perto, mas às voltas fica distante de Alfredo Marceneiro, no Bairro de Chelas. Quanto a Hermínia Silva fica para a Ajuda.

Longe das suas Papoilas Saltitantes, Luís Piçarra liga Helena Vaz da Silvas e José Cardoso Pires, que o Município equiparou na toponímia da cidade. Ambos vão dar a David-Mourão Ferreira e são vizinhos de Álvaro Cunhal. Octávio Pato fica para o outro lado da Krus Abecassis, perpendicular à Santos e Castro, um presidente da Câmara de Lisboa não eleito.
Melo Antunes vai desembocar na Sérgio Vieira de Melo; antes cruza a Octávio Pato e a Luís Sá, depois encontra a João Amaral. Da rotunda onde desemboca a Álvaro Cunhal, saem para a direita Vasco Gonçalves, para a esquerda Eugénio de Andrade. Vantagens das novas urbanizações, nesta toponímia de proximidade.  

Antigamente não era assim
Rua sem nome
Antigamente, conta-nos o historiador António Borges Coelho - Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista, Caminho, 2007 -, havia «becos sem nome e ruas com nomes vários», e nos nomes «ficaram registadas a flora - Rua da Amendoeira, da Oliveira, da Figueira, das Parreiras; os ofícios - Caldeiraria, Ferrarias Velhas e Novas, Correiaria, Tinturaria; o morador rico ou poderoso - Rua de Dom Gil Eanes, do Conde da Vidigueira, do Barão.
E assim a cada passo «nos confrontamos com o muro da cerca, o arco, a cruz, a porta, a torre velha ou nova, os moinhos de vento, os fornos, as atafonas, o outeiro, a laje, os canos, a ponte, a regueira, as varandas, os corredouros ou passadiços.» 

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Comer em Campo d’Ourique: A LISTA DE SEIXAS

Mercado de Campo de Ourique
O embaixador Francisco Seixas da Costa, um connaisseur da boa mesa, editou no seu blogue Ponto.come uma lista de duas dezenas de restaurantes como guia para bem comer em Campo d’Ourique. Só temos, todos nós lisboetas, a agradecer-lhe a disponibilidade de partilhar os seus conhecimentos tão vastos como requintados. E Campo d’Ourique por certo também agradece. O bairro é um todo onde as pessoas fazem a sua vida, incluindo sentar-se à mesa, com prazer.

A Tasca da Esquina

De maneira que aqui disponibilizo a lista de Seixas, reforçando as suas recomendações e remetendo os leitores para o endereço do Ponto.come, para que condimentem a lista com o tempero das palavras do autor.
Há um restaurante de Campo d’Ourique que o autor do Ponto.come inclui na lista, embora sublinhando os seus aspectos mais negativos e acrescentando que aquela é a casa que mais o divide de vários amigos: a maioria deles adora e ele não. « Feitios...», comenta.

Sigam a lista de Seixas da Costa e bom proveito.

domingo, fevereiro 08, 2015

Lisboa vista do espaço

A Agência Espacial Europeia divulgou imagens captadas pelo satélite Sentinel-1A, em Outubro, nas quais Lisboa aparece em destaque, de tal maneira que a Agência dedicou à capital portuguesa o seu programa Earth from Space (A Terra Vista do Espaço). 
Se para Yuri Gagarine a Terra era azul, Lisboa vista do espaço é azul e amarela.
O rio Tejo e o seu enorme estuário, a Ponte 25 de Abril e a Ponte Vasco da Gama, mais esbatida, sobressaem na imagem, divulgada nesta sexta-feira.
Nas imagens divulgadas são visíveis o estuário do Tejo, a Ponte 25 de Abril, a Península de Setúbal, a cidade de Lisboa e toda a ocupação humana envolvente.
"A vir do canto superior direito está o rio Tejo, o maior rio da Península Ibérica, que se estende ao longo de mais de mil quilómetros. Na imagem podemos ver o final da viagem do rio: o desaguar no Atlântico, em Lisboa. Com extensos lodaçais, salinas, canaviais, e salinas artificiais, [o estuário] é importante para cerca de 16 espécies de aves aquáticas, numerosas espécies de aves nidificantes e a lontra europeia", diz a apresentadora no site da Agência Espacial Europeia.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

A propósito de bancos

Agora que tanto se fala de bancos, é curioso recordar uma velha história portuguesa. É uma história dos anos vinte do século passado, cujo cenário, na esquina da Rua do Crucifixo com a Rua da Conceição, desperta a atenção de quem passa pela exuberância de ornamentos .
Leões, folhagens, grinaldas, em volutas, acantos, frisos, arcos de volta, o edifício retrata uma época, os seus excessos e alguma confusão estética, com um resultado final entre neobarroco e arte nova. 

Mas ninguém que passe fica indiferente ao traço do arquitecto Miguel Nogueira, de 1922.
Mas vamos à história portuguesa que passa por ali. O edifício foi adquirido ainda em construção, em 1925, para ali funcionar a sede de uma instituição bancária portuguesa daqueles tempos: o Banco Angola e Metrópole. 
O comprador foi Artur Virgílio Alves dos Reis.

O resto da história? Ora, a história até já foi contado em novela na televisão portuguesa e minissérie da RAI.  É a história da emissão de notas de 500  ilegítimas mas verdadeiras. 


Texto e fotos Beco das Barrelas

terça-feira, fevereiro 03, 2015

CML compra e vende

A Câmara Municipal de Lisboa quer vender este ano os terrenos da Feira Popular, em Entrecampos, adquiridos há um ano, no âmbito de um acordo com a Bragaparques.
A CML estabeleceu um acordo com a Bragaparques, em Janeiro de 2014, com vista a consolidar definitivamente a propriedade dos terrenos da feira Popular em Entrecampos e do Parque Mayer junto à Avenida da Liberdade.
O presidente da Câmara esclareceu na altura que a compra dos terrenos do Parque Mayer criou “condições para se executar o plano de pormenor”, que prevê, entre outros, a requalificação dos teatros Capitólio e Variedades, áreas comerciais e um terceiro equipamento para uso a definir.
Entre o Parque e a Feira,
quantos teatros vão abaixo?

Sobre os terrenos da antiga Feira Popular, o autarca disse que “não serão outra vez feira popular”, sublinhando que havia tempo “para se poder, com tranquilidade, definir os seus usos urbanísticos, visto que se trata de uma área de valorização muito importante para a cidade de Lisboa”.














Nos termos do acordo, a CML pagou 100 milhões de euros pelos terrenos da Feira Popular e Parque Mayer. Agora anunciou que os terrenos na antiga Feira Popular, em Entrecampos, vão ser vendidos este ano pela Câmara.
Lisboa e os lisboetas deixaram de ter Feira Popular, também não têm Parque Mayer, mas a CML desembolsou 100 milhões e agora propõe-se vender os terrenos de Entrecampos em hasta pública.