terça-feira, março 24, 2015

Há 100 anos, em Lisboa, nasceu o futuro

Há 100 anos, das oficinas da Tipografia do Comércio, na Rua da Oliveira ao Carmo, nº 10, no local onde até há poucos anos funcionou a redação do Diário Económico, em frente do restaurante Alcobaça, saiu o nº 1 da Orpheu, Revista Trimestral de Literatura, editada por António Ferro, dirigida por Luiz de Montalvôr e Ronald de Carvalho.
A capa de José Pacheco ainda hoje se reconhece à distância de um século: anunciava a afirmação das vanguardas modernistas em Portugal. O jornal A Capital chamou-lhe “literatura de manicómio”.

Colaboravam no 1º número da revista Orpheu Luís de Montalvor, Mário de Sá-Carneiro – Indícios de ouro –, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa – O Marinheiro (drama) -, José de Almada-Negreiros – frisos (prosa) -, Côrtes-Rodrigues, Álvaro de Campos – Opiário e Ode Triunfal:

… Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!...

A assinalar o centenário da Orpheu, em Lisboa:
Fundação Gulbenkian – Congresso Internacional do Centenário do Orpheu;
Biblioteca Nacional - exposição “Os caminhos de Orpheu”;
Biblioteca-Museu República e Resistência, quarta-feira, dia 25, Conferência “Orpheu – 100 anos depois, A grande mudança na literatura, por António Valdemar, jornalista, investigador e membro da Academia das Ciências.
Casa Fernando Pessoa - programa com artes plásticas, performances e leituras;
CCB – Sábado, 28 de Março, conferência pelo ensaísta Eduardo Lourenço.

Na Ilustração de 1 de Agosto de 1929, Reinaldo Ferreira, o Repórter X, reporta os encontros de 1915 dos "futuristas" da revista Orpheu, no Congresso de Artistas e Escritores da Nova Geração, na Cervejaria Jansen: 

«Estavam lá todos», na Cervejaria Jansen: Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Santa Rita Pintor, Mário de Sá Carneiro, «Jorge Barradas, o “Barradinhas”, elegância cinematográfica», «o Stuart, o terno estilizador da garotada, dos “Quins” e dos “Manecas”», «o José Pacheco, parisiense, bar-gluch, magro, enluvado, arlequim dos grandes projectos do ópio, vestido pelas modas da alfaiataria que ainda não chegou a Portugal». E rematava: «Estavam lá todos». 

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