segunda-feira, abril 11, 2016

"Ter saudades não é vergonha..."


Fernando Assis Pacheco e Mário Alberto, uma "dupla Vaticana", à porta do Parque Mayer
(Foto dos anos 80, Cortesia de Miguel Pereira)

“A história dos lugares é a história dos homens que os habitaram ou que, ocasionalmente, por lá passaram, deixando, contudo, um lastro de presença. Por vezes, esses lugares nem sequer são belos. Por vezes, esses lugares são tristes reservas de comovidas saudades e de intensos mitos. Mas a verdade é que ter saudades não é vergonha, e sem mitos não se pode viver. O Parque Mayer é uma espécie de povoação abandonada ao sono, no interior do coração da cidade. É o mórbido sussurro de que são feitos os bosques nocturnos. Um bosque nocturno, eis o Parque Mayer, protegido por sentinelas que tentam, afinal, reabilitar um tempo e recuperar múltiplas épocas.
(…)
“O Parque Mayer, se me permitem o esforço imperativo de isto vos dizer, sempre foi a desordenada invenção de poetas ébrios e o esforço pessoal de muita gente anónima que marcou a nossa intimidade pessoal e a nossa exuberância colectiva.
Mário Alberto no seu cenário
“Não é ressuscitar o passado. Como escreveu Afonso Duarte, "o passado é sempre um resto / ou, pior, uma falta de saúde". É ressalvar uma identificação de Lisboa e resgatar uma afirmação popular de cultura. Nós julgamos que matamos o tempo. Talvez assim seja. Mas o tempo enterra-nos, não o esqueçamos.
“O Parque Mayer é uma história de família que estamos a esquecer, um sentimento distinto que estamos a assassinar, uma referência fundamentalmente lisboeta que estamos a deixar perder.
“Isto não é lá com eles. Isto é cá connosco.”

Baptista-Bastos - Parque Mayer: a reserva de mitos. Público, 6.12.1995

(a escolha e a responsabilidade de juntar esta foto e este excerto deste texto é dos editores deste blogue)

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