terça-feira, setembro 23, 2014

Chove no betão



Consta que já estão em curso estudos e análises para fazer o elenco das causas mais um dia de cheias em consequência de chuvadas intensas. Como este blogue tem um carácter eminentemente construtivo e visa contribuir, embora modestamente, para que lisboetas mais distraídos, sejam eles governantes, autarcas, gestores ou cidadãos anónimos, abram um pouco mais os olhos, deixamos uma pequena sugestão para a análise em questão e em que estamos. Se se quer de facto saber o que se passou, perguntem ao professor arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles que anda há décadas a falar com toda a propriedade sobre o assunto.
Bem sabemos que as ideias de Gonçalo Ribeiro Teles não estão lá muito na moda, nestes tempos de cimento armado. O arquiteto fala de «ilhas de verdura» numa cidade refém do betão; fala de «hortas e quintais», numa cidade impermeabilizada com argamassa que substituiu quase todos os logradouros por espaços de estacionamento, caves, arrecadações, casas de máquinas e oficinas; fala em «trazer o campo à cidade» para uma sociedade de frequentadores compulsivos de centros comerciais; e fala em «circulação da água», numa cidade que põe cimento em cima de cada centímetro quadrado rimando urbanização com especulação e ambas com betão.

De maneira que quem não queira ouvir e ter em conta ideias, experiências e argumentos como os do arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles não venha dizer que quer entender o que se passa em Lisboa de cada vez que chove um pouco mais. Sim, porque o que se passou já se tinha passado anteriormente e voltará a passar-se. Ribeiro Teles é que sabe.

Texto e foto Beco das Barrelas / D.R. 

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