segunda-feira, julho 22, 2013

Aqui jaz mais uma livraria


Neste tempo de indiferentismo, de apatia, do espectáculo, cinco pessoas mantêm aquilo aberto. Então isto não é bonito?
Vítor Silva Tavares, editor, coautor do “Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa”

Cinco livreiros, trabalhadores da Sá da Costa - Noémia Batalha, Susana Pires, Pedro Oliveira, Salomé Gonçalves e António Esteves -, aguentaram o último fôlego da Livraria fustigada pela “ditadura financeira”, pela barbárie, e pelos interesses da especulação.

A Livraria tem 100 anos: foi fundada em 1913 no atual largo Dr. António de Sousa Macedo, ao Poço dos Negros. Em 10 de Junho de 1943 mudou-se para a Rua Garrett, onde foi classificada no PDM de Lisboa como um dos “bens imóveis de interesse municipal”. De nada lhe serviu: foi penhorada pelas Finanças com as respetivas licença, alvará, direito ao arrendamento e trespasse "e todos os armários/prateleiras, existentes em todas as paredes do rés-do-chão do estabelecimento e que cobrem as mesmas em toda a sua extensão"; foi posta à venda pelo Tribunal; o plano de viabilização da Sá da Costa foi chumbado pela assembleia de credores; a Livraria foi declarada insolvente e foi ordenada a liquidação total da Sá da Costa.

O Manifesto diz que aquela esquina da Rua Garrett com a Serpa Pinto é um “lugar cobiçado demais, pelos negócios do dinheiro graúdo”. Os livreiros chamam a atenção para a “destruição dos espaços culturais emblemáticos, por fatal ‘mudança de ramo’, vítimas da especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada ‘natural’ das lojas e luxo, [que] encerram portas num abrir-e-fechar de olhos”.

Nos últimos tempos fecharam em Lisboa as livrarias Portugal, Guimarães, Barateira, Petrony, Bocage, Camões e Biblarte. E a Livraria Poesia Incompleta - a única livraria de Lisboa exclusivamente dedicada à poesia - mudou-se para o Rio de Janeiro.

Outras casas como a Lello, a Olisipo e a Artes e Letras correm o risco de fechar. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, entre 2007 e 2011 desapareceram mais de 100 livrarias em Portugal e em 2012 a tendência negativa agravou-se.

No manifesto, os livreiros afirmam que o fecho da Sá da Costa é um “sinal dos tempos – bem paradigmáticos desta apagada e vil tristeza em que o país, e nós com ele, nos encontramos mergulhados – a zona do Chiado, a sua histórica envolvência, tem sido palco de uma razia, de devastação”.





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Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

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