domingo, outubro 04, 2015

A História passa por nós no Rossio


Esta Praça, quando se chamava Rocio foi espaço de feiras e mercados. Era de terra batida mas isso foi uns séculos depois de ser navegável. Ah pois, foi navegável antes do século XII e chamava-se Valverde, nome de um afluente do Tejo. Mais tarde vieram os edifícios e um dos de maior nomeada foi o Hospital de Todos os Santos, do tempo de D. João II, Príncipe Perfeito do século XV. De resto, era mais conventos. O de São Domingos de Lisboa vinha do século XIII mas apanhou dois terramotos – 1531 e 1755 - e foi reedificado no século XIX.
A Praça, ou Rossio, também era de palácios. No Palácio dos Estaus, nas traseiras do Rossio, D. Sebastião recebeu do cardeal D. Henrique o governo do Reino. De onde saiu agora uma esquadra da PSP foi em tempos a Intendência da Polícia. No século XIX, o Rossio era de touradas, festivais, feiras, paradas militares, festas e revoluções. A memória mais negra é a dos autos-de-fé da Inquisição e das execuções capitais.

Na segunda metade do século XIX foi construído no Rossio o Teatro D. Maria II e inaugurada a estátua de D. Pedro IV. O Rossio tem o nome do rei e não se confirma que a estátua seja de Maximiliano do México. D. João VI mandou erguer na Praça um monumento à Constituição de 1820. Dois anos depois, porém, o mesmo monarca a mandou arrasar, após o regresso do absolutismo. Não se pense que virar a casaca é defeito de fabrico da República e da Democracia.
O café Nicola que hoje conhecemos no Rossio tem fachada do século XX. O Nicola original fechou em 1834. Era o poiso habitual de Manuel Maria Barbosa du Bocage e quantos poemas rimam com Nicola! Era grande a concorrência entre Nicola, Brasileira do Rossio, Café Suisso (com dois esses), Café Martinho, Café Chave de Ouro. Este ficou na História por uma frase do General sem Medo: «Obviamente, demito-o».




Quanta História 
quantas histórias 
passam por nós no Rossio. 
E para que o seu fique com seu dono, 
a frase “Passa por mim no Rossio” é um verso de um poema de João Villaret, intitulado Recado a Lisboa:





Lisboa, querida mãezinha
Com o teu xaile traçado
Recebe esta carta minha
Que te leva o meu recado

Que Deus te ajude Lisboa
A cumprir esta mensagem
De um português que está longe
E que anda sempre em viagem

Vai dizer adeus à Graça
Que é tão bela, que é tão boa
Vai por mim beijar a Estrela
E abraçar a Madragoa

E mesmo que esteja frio
E os barcos fiquem no rio
Parados sem navegar
Passa por mim no Rossio

 E leva-lhe o meu olhar

                                                                                João Villaret dizia, 
muitos cantaram,                                                                 Ana Sofia Varela,  
João Braga,
Beatriz da Conceição

Texto e fotos 
Beco das Barrelas


1 comentário:

  1. Na disputa também entrava o Café Gelo. Surrealistas, outros istas e também umas mariquices que hoje seriam completamente inocentes!

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